Voltei a Caminhar por Bordença
Em Novembro voltei a caminhar por Bordença.
Num belo dia de sol, neste mês de Novembro de 2016, saímos de Arcos de Valdevez, rumo a Adrão. Fomos ao Cemitério de Adrão prestar homenagem à nossa gente. Quando vejo as imagens das pessoas, no nosso Cemitério, para mim, continuam todos, por ali, caminhando nos nossos caminhos mas, a verdade é que eu não os vejo! Mesmo assim, sinto que caminham a meu lado.
Os castanheiros no Vidoeiro
Elas caminham ao lado dos castanheiros
Não passamos do Cemitério! Do Cemitério fomos até ao Vidoeiro e seguimos, a pé, o caminho para Bordença. Elas ficaram pelo caminho e eu fui fazer o que alguns anos atrás tentei. Tinha tentado ir de Soajo ao Senhor da Paz pelo nosso velho caminho mas, mal saí de Soajo, saí do caminho e fui atrás dos corvos e de uma poupa até junto da estrada à minha esquerda. Depois desci em corta-mato até à Corga e subi pelo lado oposto. Reiniciei o caminho em direcção do Areeiro mas olhei para a minha direita e pensei ir até à Costa da Vacas para tirar fotos à Assureira mas do lado de lá só via carvalhos e matos onde a Assureira está enterrada.
Campos de Bordença
Foi aqui que a minha Madrinha me agarrou debaixo de um braço e correu comigo ao ouvir uma machada a cortar carvalhos. Seria para ela o espírito de uma senhora de Adrão que estava a morrer
Consegui chegar ao Vidoeiro que nesse dia foi o meu purgatório. Não fiz o que queria. Bordença ficou para trás. Foi uma terrível caminhada pela Costa das Vacas com calor incrível e sem água. Foi a pior caminhada da minha vida, pelas minhas Montanhas Lindas. Era um forno naquele dia, barrado por giestas queimadas ou verdes e outros matos. Mas este ano desforrei-me. Caminhei por Bordença!
Atravessar a ponte, rumo a sul
Caminhei na sua ponte, observei o seu rio a montante e a jusante, por entre os salgueiros e outros matos. Ouvi o cantar das suas águas que descem os seu montes desde a Corga da Vagem. Muitas vezes, quando puto, subi e desci aqueles montes atrás das cabras de Bordença. Segundo me disseram, em tempos, quando ainda muito pequenino, corri riscos de ter sido queimado em Bordença. A jusante da ponte na margem esquerda o meu tio João Rego queimou umas silvas e o monte começou a arder. Terá sido a Maria da Melindra que me tirou de lá e foi a correr comigo nos braços até à casa da Mesa no Senhor da Paz, onde achou que estaríamos em segurança.
O rio de Bordença com salgueiros sem fim
Junto a essa videira, na casa da direita, foi onde eu vi pela última vez e me despedi do tio João Rego
Parei no sitinho onde me despedi do ti João Rego. Ali, junto a uma videira, com a vara sobre o queixo. Observava-me, de mala na mão, a atravessar a ponte e perguntou-me: "onde vais Luis"? Vou para Lisboa. "Vai, vai filho, o mundo é para os homens". Para mim Bordença também é história e adorei pisar, mais uma vez, os seus caminhos. Cheguei a pensar que nunca mais voltaria a pisar a ponte de Bordença, mas o Senhor da Esfera disse-me: «vai lá Ventor, vai e continuarás a sonhar». E eu fui!
Belezas das minhas Montanhas Lindas, junto à estrada, no Vidoeiro