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Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

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Vejam estes golosos a comer rojões assados na serra mais linda do mundo - a serra de Soajo


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Assar rojões na serra de Soajo, nos braseiros dos torgos das urzes, é uma tradição de séculos. Os que eles estão a comer em cima, são estes. Eu estou de serviço às fotos.

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O Tição

Vamos recordar o Tição. Há tantas coisas para contar sobre Adrão!

O tição? O que será um tição? Pois bem, em Adrão, um tição poderia ser considerado uma preciosidade. Senão vejamos!

Imaginem-se numa aldeia na escuridão da montanha, sem energia eléctrica e com quase nenhuns recursos alternativos!

Pois é! Se queríamos lanternas clássicas, daquelas com quatro vidros laterais, teríamos de ter lanterna mais petróleo. Se queríamos petromax, teríamos de ter o instrumento mais os bicarbonatos, se queríamos as lanternas a pilhas, teríamos de ter o chamado "foxe" e as pilhas, etç. Mas, num sítio, onde o abastecimento era, normalmente, longínquo, quando faltava na Tasca do meu amigo Carrasco ou mesmo Soajo, o abastecimento mais próximo viria a ser nos Arcos de Valdevez (cerca de quatro horas e meia a pé para cada lado).

Eu tinha sorte porque, o meu amigo Carrasco era quem me abastecia com pilhas de 4,5 V para o meu "foxe" de olho de boi. Pedia-lhe as pilhas e os anzóis para a pesca à truta e, raramente, ele me deixava ficar mal. Ou não havia, ou ele esquecia-se, quando ia aos Arcos abastecer-se com os produtos mais necessitados para uma aldeia sem nada. As minhas encomendas eram sempre, pilhas para o "foxe" e anzóis para a pesca. Nem sempre havia dinheiro e, quando não havia, eu pagava isso tudo com ovos frescos.

 Uma foto tirada da wiki da autoria de Photo by Jens Buurgaard Nielsen

Um tição será um  pau lançado para o lume do borralho em que uma extremidade fica incandescente como estas brasas e a outra extremidade, ainda por queimar, serve de pega

Se o lume estava como este, todo incandescente, dizia-se: "espera aí que eu arranjo-te um tiçãozinho". Atirava-se um tronquinho com uma ponta para o braseiro, deixando a outra metade de fora. Em pouco tempo estava feito um bastão incandescente

Mas, nem toda a gente podia ter tudo, nem mesmo dessas coisas, hoje insignificantes. Ou não havia dinheiro, ou não havia os produtos mas, havia sempre um tição. Nas visitas nocturnas, quer apenas por visita ou fazer combinações para o dia seguinte, sobre o trabalho, qualquer que ele fosse, a vezeira do gado, trabalhar a terra, ir ao estrume ou à lenha, havia necessidade de combinar as tarefas do dia seguinte. Depois, ai depois, é que eram elas! Era preciso regressar a casa e isso não era tarefa fácil! Na escuridão dos caminhos de Adrão teria de haver algo que nos mostrasse a nós e ao mundo que estávamos presentes e não éramos cegos. Para isso bastava-nos um tição. Um pedaço de lenha em brasa (incandescente) numa ponta e a outra ponta deveria estar normal para a podermos pegar. Oh, tia Teresa, não me arranja um tiçãozinho? Olha minha filha, o meu Luís leva-te a casa com o "foxe" dele.

Mas nem sempre isso era possível. Então, por vezes, as pessoas cruzavam-se com o tição incandescente na mão, pareciam aquelas armas utilizadas na Guerra das Estrelas (bastões), sacudidas para um lado e para o outro, para a aragem manter a brasa viva e, assim, marcar presença e tentar ver os pedregulhos que haviam pelos caminhos. Quem vem lá? Oh, Maria, que raios fazes aqui às escuras? O mesmo que tu, tento ver no escuro!

Para quem hoje tem tudo ou quase, acho uma beleza recordar a nossa vida com mais de meio século para trás. Grande era o teu nome, Tição!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente