Descida da Pedrada em 2013
Ao descer da Pedrada e depois de comermos na Corga da Vagem, iniciamos a caminhada rumo ao Alto da Derrilheira e voltou a tormenta à minha perna. Mesmo assim, os meus companheiros de caminhada lá iam à frente, enquanto eu, sem pressas, tal como as vacas piadas dos lados de Cavenca, o único sítio onde vi vacas piadas, lá ia dando passadas e vasculhando o chão, em volta das carquejas, à procura das gensianas azuis. Foto aqui, foto ali, lá fui seguindo até à Derrilheira. Quando cheguei eles descansavam esperando a minha chegada e observavam a beleza do conjunto das nossas montanhas lindas.
Ao ver a Férrea queimada, recordo-me do tempo que tinha uns trilhitos e tojos rasteiros porque os animais, nesses tempos comiam tudo
Descemos até ao Muranho e voltamos a beber água na sua fonte. Depois descemos rumo à Fonte da Naia onde não havia água limpa para beber. Mas assistimos à caçada do tira-olhos por uma das rãs que andam por lá para saudar o Ventor.
Depois decidimos descer para Adrão e tínhamos três alternativas. Pela Portela, por Fontoura ou pela Férrea. Para mim nenhuma delas era boa e, como já não descia pela Férrea há alguns anos, alvitrei que podia ser por lá. Eles aceitaram. Contrafeitos ou não, aceitaram. O Luis e o António sabiam os terrenos que pisariam mas o Eira-Velha, não conhecia nenhum na descida e serviria um qualquer.
Mas olhando a foto, quem diria que esse monte é dificuldade para alguém, mesmo para um coxo!
Vi-me aflito para descer até à Chãe do Boi e a desordem foi tal que depois, até atravessar a Chãe do Boi, sempre a direito foi terrível para mim mas, o inferno, estava logo ali à frente.
O caminho da Férrea sempre tinha sido um dos meus preferidos a subir ou a descer mas isso era dantes quando, as pernas nada temiam e bons ou maus, ainda havia caminhos. Agora já não há caminhos na Férrea, apenas uns barrancos invisíveis pela altura dos tojos. Estes trilhos eram impróprios para um tipo cheio de dores intensas e que quase não podia com o corpo sobre as pernas, especialmente a direita.
Houve uma altura que rodopiei sobre a perna direita, ela não aguentou e tive de ir ao chão, sobre uma moita de tojo. Meti a vara para fazer força mas não conseguia sair dali. Rodei sobre o tojo para cima de outra moita, em baixo, consegui ficar a jeito sobre a perna esquerda e com a vara, só à terceira vez me consegui ver livre da moita. Ao mesmo tempo vi uma cobrinha castanha a fugir debaixo dessa moita para a seguinte. Se os animais falassem ela teria dito: "ah, Ventor que me ias matando"!
Descendo a Férrea, sempre podia ver, descendo, o Marco d'Além, o Gondomil, o Castelo, o Poulo da Fraga, ... e, talvez, gritar "lá se vai o sol ao Alto"!
Como me foi difícil descer a Férrea!
Mas eu sou um macaco teimoso e, se calhar, ainda não desisti!
Por fim rumamos aos Arcos e só me resta esperar uma próxima vez.