Em Redor de Adrão
Vou voltar ao Senhor da Paz!
Como todos de Adrão sabemos, o espaço em redor do Senhor da Paz, é um espaço nosso e de todos que por lá queiram caminhar. Lá podem encontrar-se todos os santos que desde miúdo eu ouvia falar. O Senhor da Paz, nossa Senhora das Dores, nossa Senhora da Conceição, nossa Senhora da Peneda, ... enfim, esses e muitos outros.
A minha relação com o Senhor da Esfera e com os seus Santos é óptima. Já com os nossos Padres, não posso dizer o mesmo.
O Senhor da Paz, em Adrão - uma foto da Cristina Capela, que permitiu o seu uso através do Facebook. Deixo-lhe aqui um beijinho. Lamento muito por não conhecer toda a minha gente de Adrão
Sim, porque nossa Senhora das Dores, foi a primeira que observou o Ventor e o levou perante o Senhor da Esfera, quando o Ventor foi baptizado, em Soajo. Mas, só mais tarde, o Ventor se recorda da sua existência. Com cerca de cinco anos, caminhava o Ventor nas rochas da Açoreira, ao descer da Portela para a casa da Açoreira, encantado com as belezas dos gafanhotos - os nossos célebres saltões! Quando eles abriam as asas, o Senhor da Esfera, imediatamente, informava o Ventor que todos nós éramos filhos do Sol. E seremos sempre, enquanto o meu (nosso) amigo Apolo, não se cansar da sua caminhada e continuar a velar por nós.
Um dia, correndo atrás dos gafanhotos, na Açoreira, para os ver voar e observar o colorido das suas asas abertas, dei um pontapé numa pedra e arranquei uma unha. Chorava com as dores e, desencantado com esse mundo rochoso, recordei-me de como era belo o Senhor da Paz, onde julgava eu, não seria tão fácil arrancar uma unha como me tinha acontecido.
A minha irmã, para me calar, disse-me: "está na hora de pedires à nossa Senhora das Dores, de Soajo, para te ajudar e te tirar as dores. Foi o que eu fiz. No meio da minha lamúria, recorri à Senhora das Dores. Com o tempo, a dor passou e eu fiquei encantado com Ela. A partir daí, a Senhora das Dores, passou a ter mais um "fã"!
Com o tempo, já grande, desde que comecei a pensar como homem e a fazer parte das guerras deste mundo, continuei a caminhar ao lado das "vidas" dos santos da minha meninice mas, espero que eles não me levem a mal, comecei a olhar os homens que administram as suas "maisons" e dão ajuda à sua permanência entre nós - os padres - como utilizadores dessa permanência, para mim, semelhante a um comércio!
Estou-me a lembrar de um telefonema que, uma noite destas recebi de Paris, de alguém de Adrão que terá ficado muito sentida com o Padre de Soajo por não atender à querença de mais alguém de Adrão que gostaria de casar no Senhor da Paz. E não, e não, e não! Esse casal, não conseguiu ter o prazer de casar na igreja que pretendia mas, conseguiu arranjar maneira de consagrar o seu matrimónio no local da alternativa - a Senhora da Peneda. Mas também o Padre da Peneda, contrariado ou não, não sei, perante umas crianças que se perfilaram para a tomada dos sacramentos que a ele compete administrar, anteriormente, fez uma pergunta sem nexo do tipo "que querem vocês daqui"? Coisas que caem mal no seio do povo.
"La Maison" do Senhor da Paz, fotografada da estrada, à saída da Chãe do Ruivo, no dia que levei o meu Quico, para ficar em Paz, nas nossas Montanhas Lindas, em 24 de Setembro de 2009
São atitudes destas, que levam as crianças a crescer, tornarem-se gente e a repensar a sua caminhada, nos trilhos dos Padres. Gostava de saber qual a razão que leva o Padre de Soajo, por teimosia ou birrisse, a não casar a gente de Adrão, que o pretenda, na sua Igreja do Senhor da Paz! Eu sei que isto não é um acontecimento apenas do padre de Soajo, mas de muitos padres por este país fora.
Recordo-me da minha companheira de caminhadas, pretender casar-se comigo, pela Igreja e, de gostar que esse acto, se realiza-se na capelinha do Palácio de Queluz. Numa visita que tinha lá feito, gostou e passou a sonhar com essa futura caminhada da sua vida. Pediu-me se não me importava e eu disse-lhe que tudo seria feito a seu gosto. Com Igreja ou sem Igreja, com capela ou sem capela!
Foi tratar disso e alguém lhe disse que o Padre de Queluz, não casava ninguém lá e que, quando antigamente o fazia, um dos noivos teria de ser residente na Freguesia de Queluz.
Ela foi falar com o Padre e, com a sua retórica e o seu ar de anjo, tinha-o quase convencido mas ele, perguntou logo qual de nós vivia em Queluz. Ela disse logo que era eu e ficou encravada com isso. "E agora"?
Perante aquele querer forte que ela tinha, nada me restava que não fosse: «agora eu vou viver para Queluz»! Assim, "vivi" na casa dos pais de uma colega dela, em Queluz, uma casa, onde nunca entrei e só passei a saber o nome da rua e o número da porta. Escusado será dizer que já esqueci.
Há dias, comecei a ler um livro sobre Amaro da Costa, uma das minhas prendas de Natal. Verifiquei que ele passou sobre o arcabouço do padre de Palmela, que teimou em não o casar na capelinha do Castelo de Palmela, onde ele e a sua noiva pretendiam casar-se. Mas ele, com a ajuda de alguns amigos prepararam a capela e levou um padre de Lisboa, o Padre de S. Sebastião da Pedreira.
Conheci mais casos semelhantes a este de Adrão e, se calhar há outros.
Ora, tudo isto, só me leva a afastar dos padres! Sejam eles de Soajo, sejam de onde forem.
Depois, quando ouço falar dessa história da Igreja Católica não arranjar padres suficientes para ministrarem, na sua óptica, o Reino de Deus, dá-me apenas, vontade de rir!
Aquela que foi a nossa Escola do Senhor da Paz, fotografada da estrada, à saída da Chãe do Ruivo, no dia que levei o meu Quico, para ficar em Paz, nas nossas Montanhas Lindas, em 24 de Setembro de 2009
Eu não preciso que os Padres me ministrem o Reino de Deus, porque eu, desde que nasci, faço parte desse Reino! Eu caminho nos trilhos do Senhor da Esfera e Ele olha-me sempre a seu lado. Não preciso dos Padres para nada, mais ainda quando por portas e travessas, me apercebo que a água benta que baptizou alguns, lhes levou à cabeça, o vírus da teimosia.
Uma Nota para quem lê: «Tenho escrito a palavra Açoreira, sempre com dois "ss" e um "u" (Assureira). A partir de hoje, vou escrevê-la sempre com um "ç" e um "o", porque foi assim que a vi escrita uma vez num mapa, bem como a "Assureira" de Castro Laboreiro. Tinha pegado na primeira, em desacordo comigo mesmo, por recordar-me do meu pai me dizer que a Açoreira era uma terra de açores, a bela ave de rapina que ainda esvoaça por alguns sítios do nosso país. E tem toda a lógica. Não sei porque terá de ser com dois "ss" e um "u".