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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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rio adrão.jpeg

Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


17.11.06

Adrão, a Ponte


Ventor

Já vos falei de alguns locais de Adrão. O cabo do Eido, o Eirado, Outeiros e agora vou falar-vos da Ponte. O forte da Ponte de Adrão ou de outro local qualquer, é o rio!

Como noutros tempos, as galinhas continuam a caminhar na nossa ponte! Mas as aparas da ponte são outras, nem elas nem as pequenas visitas, vindas de outros mundos cairão ao rio.

Para montante temos o rio que desce vindo desde os Surreiros, por baixo do Alto da Derrilheira, onde nasce, descendo as suas águas pela Corga da Naia, entram no rio da Fraga, descem pelo rio da Leira e embatem nas rochas de granito alicerces da nossa ponte.

Para juzante, elas dirigem-se por Outeiros abaixo e recebem o rio da Coroa, que vem desde a Corga Grande e seguem pela Veiga, Arriba dos Moinhos, Curral das Cabras e no fundo da Assureira recebe o rio de Bordença seguindo juntos até ao fundo de Soajo onde abraçam o rio Lima. Aí acaba o rio de Adrão!

Agora há um lavadoiro e, quando a água não desce o rio, vai por este rego, à direita, regar as lavoiras da veiga. Foi por aí que seguiu a minha gotinha Sonhadora e continua no vai-vém da vida a prosseguir um ou outro destino. Rio ou rego.

Mas a história da ponte é feita pelas suas gentes, pelo seu rio e pelo seu Moinho. Era ali que eram lavadas quase todas as roupas de Adrão, na água límpida que descia da nossa serra. Era ali que os miúdos brincavam enquanto as mães lavavam. Eles agarravam os seus "carrapatos" (girinos), prendiam-nos em pocinhas e faziam as suas coutadas. Quem mais girinos tivesse, era o mais poderoso. Essa era uma das nossas brincadeiras, mas elas não acabaram connosco! Filhos de Adrão nascidos na América, vinham e quase tão naturalmente como os seus pais eles brincavam da mesma maneira.

Este bichinhos insignificantes, os girinos, vêm a cantar para nós e enfeitam os nossos olhos e já foram peças valiosas das minhas brincadeiras

Eu vi e fiquei parvo com zangas iguais às nossas. Nunca tinham estado em Adrão mas viram os girinos no rio e fizeram o mesmo que nós fazíamos. Depois zangaram-se. De repente, vi dois miúdos a correr sobre a ponte, como dois cães de fila e o que ia atrás, gritava para o da frente: «I kill you! I Kill you"! Estavam zangados por causa dos girinos. O de trás era o meu sobrinho, o Jack, a dizer que ia matar o outro por estragar a pocinha dos seus girinos. Eram pequeninos mas foi o diabo para os estabilizar!

As mães lavavam aqui à direita do moinho. Esta primeira pedra era e ainda é a preferida das mulheres de Adrão que lavam no rio.

Também era ali que nós colocávamos os carros de bois nas noites de S. João. Mas era ali, especialmente, que as moças tomavam banho forçado e nos forçavam a nós, também, a ir a banhos. Todos se recordarão como era belo o nosso rio e a nossa ponte. Ao lado, o Moinho da ponte não parava. Ele moía o milho para o nosso pão 24 horas sobre 24 horas! Ainda em Agosto a Fátima me foi mostrar como aquilo funciona e é o único que funciona. Explicou-me toda aquela engrenagem e a música daquela tabuinha a bater na mó para fazer estremecer o milho ou o centeio que cai à cadência pretendida, nunca me sai dos ouvidos.

Este é o único moinho que ainda moe milho e centeio, em Adrão. Muito pouco, mas moe! Fui pedir à Fátima para me abrir o moinho, porque acabava por voltar sempre sem ver o moinho e isso ia acontecer outra vez. Ela estava a fazer o seu almoço, e eu vinha todo rebentado da Assureira, cheio  de calor e sem beber nada desdes as 6 da manhã, mas disse-me que nem que estivesse no fim do mundo iria abrir o moinho para mim. Um beijinho Fátima. Alguém chegará primeiro que eu a Adrão e dir-te-á que eu deixei um beijinho para ti, na Net

Quando éramos miúdos corríamos na ponte para trás e para diante atrás dos morcegos para os apanharmos à paulada. Éramos mauzinhos para os morcegos! Felizmente nunca os apanhávamos. Era devido à sua fama de sonaristas ou radaristas que nós os perseguíamos à paulada, mas nada. Ainda hoje quando estou com o Quico junto do seu Miradouro, fico ali a ver os morcegos passar e delicio-mo com os seus voos, tal como se estivesse na ponte de Adrão. Penso muito, também, como foi possível tanta correria naquela ponte sem nenhum de nós cair. Naquela época faltava uma ampara e outras eram muito baixinhas. Hoje é quase impossível cair daquela ponte, mas naquela época só realmente os braços compridos do senhor a Paz!

Ou seria este o guardião do moinho, o nosso guardião também? O senhor da Paz não se zanga, porque ele sabe que nós sabemos que o equilíbrio da Esfera é feito por todos

Depois, a seguir, tínhamos a Eira da tia Saloia, minha querida amiga, quase fazia as vezes da minha avó que me faltou muito cedo. Ali brincávanos em grandes correrias e parecia que o nosso fim era a eternidade. Tudo em Adrão era o princípio e o fim do Mundo. O nosso lar e as nossas montanhas eram tudo que tínhamos. Em África, olhava os pretos e os seus montes de capim e pensava que eles seriam tão felizes como eu tinha sido em Adrão. Eles viam o nosso amigo Apolo nascer e passar além do horizonte todos os dias e ficavam espantados quando eu lhes mostrava as cidades ocidentais como Lourenço Marques, Joanesburgo, Lisboa e outras. Mas eles tinham as suas palhotas ... os seus arranha-céus e eram felizes neles.

Este cão é filho do Lodi (Lodai). Ele está a fugir de mim porque não me conhece. Mas se ele fosse como o Lodi e me conhecesse, perguntava-me logo se queria que fosse comigo à Pedrada! Ficamos logo amigos, não nesta minha sortida a Adrão mas na segunda, em fins de Agosto. Ele está a fazer a minha figura quando eu fugia à frente dos "velhos no carnaval". Só que hoje não há ninguém, mas nessa altura, a eira estava cheia de gente e eu obrigava-os a correr.

Tínhamos também a Eira da Leira, ali junto à ponte com os seus caniços. Em adrão havia caniços por todos os lados. Na Barreira, no cabo do Eido, na Eira da Leira, na Eira da tia saloia, em Outeiros. Creio que hoje ainda existem todos ... mas vazios.

Mas, em Agosto, não estava lá a tia Saloia, estava uma pequena parte da família, como a sua filha Teresa, agora apoiada na velha vara que faz parte da nossa alma. Esta é uma pequena parte da minha gente!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

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