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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


30.01.17

Como vai ser?


Ventor

Sim, como será?

Desta vez tive mais um sonho!

Sonhei com Adrão e com velhos amigos que já não caminham por cá, há muitos anos. Sonhei com velhos falecidos, daqueles que não tiveram oportunidade de lhes colocarem fotos nas campas do cemitério de Adrão. Com gente que, naturalmente, estarão com os ossinhos desfeitos naquilo que olhamos, pisamos e chamamos terra. Mas, também, certamente, eles ficaram connosco porque nós olhamos os seus olhos e eles olharam os nossos e nós, no seu encalço, seguimos os seus caminhos, pisando as mesmas pedras dos mesmos trilhos, caminhamos por entre os mesmos tojos, os mesmos fetos, as mesmas urzes e, mesmo em tempos diferentes, observamos as mesmas paisagens.

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Digam lá que Adrão não é mesmo uma aldeia na montanha

Quando era miúdo, caminhava com eles a caminho da nossa Assureira. Estava neve e, junto das bouças a seguir à ponte de Arriba dos Moinhos, eu ia à frente de uns quantos. O nevão tinha sido grande e o peso da neve tinha feito cair um galho de um sobreiro que depois veio a tapar. Olhei aquele monte de neve e caminhei para o pisar, para caminhar sobre ele. Um deles disse: "sai daí Luis, está aí um animal morto". Achei aquilo muito estranho, porque se faltasse a alguém um animal na noite anterior, teria sido um grande alaréu e ninguém se queixara de nada. O ti Bento Ribeiro disse que, se calhar, era o burro do ti Silva. Eu tinha visto o ti Silva, na véspera, a meter o seu burro na corte e acho que, nessa noite, o animal não teria saído da corte por nada deste mundo.

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Aqui é o Poulo dos Cagordos, em Novembro passado

Meti a vara pela neve dentro e não encontrou corpo nenhum. Continuei a brincar com a vara à procura de algum animal mas só me saiu sobreiro. O ti Dafonte gritou: "moço de um raio que te vai neve para dentro dos tamancos e nunca mais aqueces os pés"! A conversa aí já era séria e comecei a ter cuidado. Eu ia à Assureira para levar as vacas beber e meter-lhe feno para o dia todo mas, quando chegamos veio o sol. Em vez de levar as vacas beber (eram duas) ou pôr-lhe água, meti-as bouça abaixo e levei-as comer erva para o campo. Utilizei uma espécie de vassoura e uma sachola para varrer a neve de cima das ervas e as vacas fartaram-se de boa erva. À hora do almoço meti-as na corte com água e feno que daria até ao outro dia e preparei-me para ir embora. O ti Bento Ribeiro foi fazendo umas coisas e esperou por mim, o ti Dafonte, na sua casa mais perto do eido, esperou por nós. Fomos os três para o eido (lugar) onde o meu pai foi tratar das vacas que estavam lá, com água e feno. Nunca me esqueço desse dia.

Mas, perante as minhas caminhadas de sonhos, eles vão aparecendo uns atrás de outros. Desta vez sonhei com Adrão, com os nossos montes castanhos, tal como os vi em Novembro passado mas caminhava sobre farrapos de nuvens e via os nossos montes de cima para baixo. Sobre essas nuvens caminhavam muitos dos meus companheiros do passado, em minha direcção. Entre eles (alguns não os identifiquei, só via vultos), estavam o ti Dafonte, o ti Bento Ribeiro, o ti João Perricho, o ti Cortês, ... a pedirem-me para ir com eles. O Ti Dafonte, o tal que uma vez disse à minha mãe que eu iria ser um grande jardineiro (gostava do que eu fazia), era o mais persistente. Ele continuava a dizer-me que isto não presta! "Vem connosco Luis, tu verás que é melhor estares connosco"!

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Esta foto foi tirada do Poulo dos Cagordos e, na minha televisão vejo bem, nela, as vaquinhas junto do Cabecinho, com o Alto da Pedrada no topo. Agora espero uma máquina que me permita tirar fotos do mesmo sítio mas ver as corsas. Isso fica para quando eu não conseguir subir à Pedrada

Eu não respondia, via os farrapos de nuvens a passarem por baixo e, por entre eles, eu observava o Alto do Lombo, a Corga da Naia, o Picoto, a Corga Grande, ... tal como se fossem as melhores coisas do mundo. De entre eles saiu a minha mãe chateada com eles todos e, perante a teimosia do ti Dafonte gritou: «deixem o meu filho em paz, ele virá quando Deus quiser e eu quero que ele fique com a minha Gisela. é escusado teimar que esse ninguém o leva a fazer o que ele não quer»! O ti Dafonte prosseguiu na sua teimosia a querer que eu fosse com eles. A minha mãe toda desembaraçada vai direita a ele e disse-lhe: «seu estuporado, se continua a insistir com ele eu racho-lhe a cabeça»!

Acordei com os olhos fixos no Alto do Lombo e falei, já sem os ver dizendo-lhe: "um dia voltarei a caminhar a vosso lado".

É a segunda vez que a minha mãe não me quer lá! Eu sei que são sonhos mas, ... sim, como será?


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente