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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


22.01.16

O Tição


Ventor

Vamos recordar o Tição. Há tantas coisas para contar sobre Adrão!

O tição? O que será um tição? Pois bem, em Adrão, um tição poderia ser considerado uma preciosidade. Senão vejamos!

Imaginem-se numa aldeia na escuridão da montanha, sem energia eléctrica e com quase nenhuns recursos alternativos!

Pois é! Se queríamos lanternas clássicas, daquelas com quatro vidros laterais, teríamos de ter lanterna mais petróleo. Se queríamos petromax, teríamos de ter o instrumento mais os bicarbonatos, se queríamos as lanternas a pilhas, teríamos de ter o chamado "foxe" e as pilhas, etç. Mas, num sítio, onde o abastecimento era, normalmente, longínquo, quando faltava na Tasca do meu amigo Carrasco ou mesmo Soajo, o abastecimento mais próximo viria a ser nos Arcos de Valdevez (cerca de quatro horas e meia a pé para cada lado).

Eu tinha sorte porque, o meu amigo Carrasco era quem me abastecia com pilhas de 4,5 V para o meu "foxe" de olho de boi. Pedia-lhe as pilhas e os anzóis para a pesca à truta e, raramente, ele me deixava ficar mal. Ou não havia, ou ele esquecia-se, quando ia aos Arcos abastecer-se com os produtos mais necessitados para uma aldeia sem nada. As minhas encomendas eram sempre, pilhas para o "foxe" e anzóis para a pesca. Nem sempre havia dinheiro e, quando não havia, eu pagava isso tudo com ovos frescos.

 Uma foto tirada da wiki da autoria de Photo by Jens Buurgaard Nielsen

Um tição será um  pau lançado para o lume do borralho em que uma extremidade fica incandescente como estas brasas e a outra extremidade, ainda por queimar, serve de pega

Se o lume estava como este, todo incandescente, dizia-se: "espera aí que eu arranjo-te um tiçãozinho". Atirava-se um tronquinho com uma ponta para o braseiro, deixando a outra metade de fora. Em pouco tempo estava feito um bastão incandescente

Mas, nem toda a gente podia ter tudo, nem mesmo dessas coisas, hoje insignificantes. Ou não havia dinheiro, ou não havia os produtos mas, havia sempre um tição. Nas visitas nocturnas, quer apenas por visita ou fazer combinações para o dia seguinte, sobre o trabalho, qualquer que ele fosse, a vezeira do gado, trabalhar a terra, ir ao estrume ou à lenha, havia necessidade de combinar as tarefas do dia seguinte. Depois, ai depois, é que eram elas! Era preciso regressar a casa e isso não era tarefa fácil! Na escuridão dos caminhos de Adrão teria de haver algo que nos mostrasse a nós e ao mundo que estávamos presentes e não éramos cegos. Para isso bastava-nos um tição. Um pedaço de lenha em brasa (incandescente) numa ponta e a outra ponta deveria estar normal para a podermos pegar. Oh, tia Teresa, não me arranja um tiçãozinho? Olha minha filha, o meu Luís leva-te a casa com o "foxe" dele.

Mas nem sempre isso era possível. Então, por vezes, as pessoas cruzavam-se com o tição incandescente na mão, pareciam aquelas armas utilizadas na Guerra das Estrelas (bastões), sacudidas para um lado e para o outro, para a aragem manter a brasa viva e, assim, marcar presença e tentar ver os pedregulhos que haviam pelos caminhos. Quem vem lá? Oh, Maria, que raios fazes aqui às escuras? O mesmo que tu, tento ver no escuro!

Para quem hoje tem tudo ou quase, acho uma beleza recordar a nossa vida com mais de meio século para trás. Grande era o teu nome, Tição!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

08.01.16

Mais um Sonho


Ventor

Voltei a sonhar com Adrão!

Raramente sonho com o meu pai e, já não tenho sonhado com a minha mãe. Desta vez sonhei com o meu pai. Poucas vezes tem acontecido, nos últimos tempos, sonhar com o meu pai.

Desta vez cheguei a Adrão e, como sempre acontecia, lá estavam todos à minha espera mas, só o meu pai conversou comigo. Disse que estava contente por ver e disse-me: "quero pedir-te uma coisa". Diga o quê, para ver se posso.

"Podes! Podes ir comigo a Paradela. Há pessoas que me dizem que nunca lá vais e eu gostava que fosses e gostava de ir contigo. Levas-me a Paradela"?

Claro que o levei a Paradela mas disse-lhe que tinha de ficar no carro pois não seria capaz de descer comigo a pé. Seria um esforço grande para ele. Mas lá fomos! Descemos Paradela a pé, como antigamente. Ele à minha frente porque eu ficava para trás a tirar fotografias.

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Belezas de todo o mundo, uma abelha procurando o néctar na Oxalis pes-caprae, a que chamamos azeda ou trevo amarelo. Flor invasora vinda da África do Sul

Depois disse-lhe: "já viu que não encontramos ninguém com quem falar! Paradela, tal como Adrão, vão ser engolidas pelas silvas". "Que pena, Luis, ainda um dia destes, pessoas de Paradela me fizeram queixa que tu vais a Adrão e não vens a Paradela". Descemos até Santos e naquele sufoco de não encontrar ninguém, acordei e fiquei a pensar nas tristezas da vida.

Pensei como tinha feito parte daquele caminho com o meu pai e o ti Domingues Barreira, em tempos, a última vez que fui com o meu pai a Paradela, antes dele falecer. Pensei nos mesmos caminhos onde em 2012 caminhei e não vi mais do que quatro pessoas. Fui até à capelinha de Paradela e não falei com ninguém porque não conhecia ninguém! No dia seguinte encontrei no Senhor da Paz, na casa da minha amiga Rosa da Valenta, que me disse: "então você é de Adrão? Andava ontem em Paradela e houve pessoas que pensavam que era um turista ou algum técnico da Barragem do Lindoso"! Isto foi uma mulher que encontrei em Paradela junto à cancela da casa de gente que, em tempos, eu gostava muito mas, mais de meio século depois, já não conheço ninguém. Fiquei a pensar nas tristezas da vida e voltei a adormecer.

Algum tempo depois estava a sonhar, mais uma vez, já não com o meu pai mas com Paradela. Voltei a fazer o caminho e a observar Paradela e, olhei os campos. Nem imaginam como os milhos estavam bonitos!

Regressei a Adrão. Houve três tipos que me pediram boleia para os Arcos e eu dei-lhes boleia, mas a estrada para os Arcos não tinha nada a ver com a estrada existente. Ela passava no meio de florestas encantadoras com vales lindíssimos e árvores frondosas. Carvalhos, sobreiros, castanheiros e eucaliptos como em tempos vi nos arredores de Vila Cabral, em Moçambique.

Será que ainda um dia verei florestas assim nas fraldas das minhas Montanhas Lindas? Será que ainda farei viagens entre Adrão e os Arcos de Valdevez com uma beleza daquelas? Não acredito que haja possibilidades que isso venha a acontecer um dia, atendendo à torpeza da sociedade actual.

Para isso ser possível, eu teria de chegar aos 100 anos e as plantações começarem já! Mas, teria também de serem proibidos os fósforos, os isqueiros, o tabaco, ... e, mesmo assim, proibir certas pessoas de caminharem nas florestas.

Como são lindas as minhas Montanhas Lindas, em sonhos!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente