Ramil, nas fraldas das minhas Montanhas Lindas
Adrão é uma Aldeia na Montanha, mas há mais!
Adrão deve ficar a cerca de 500 m de altitude. Já medi mas, de momento, não me recordo. Como já estou farto de repetir, por aqui, eu continuo a passear por lá, a sonhar com os seus riachos, a sonhar com os seus caminhos mas, apesar de, praticamente, quase só me ouvirem falar de Adrão, deixo-vos aqui a informação de que não esqueço as outras aldeias instaladas, airosamente, nas fraldas da minha serra - a serra de Soajo.
Entre o monte de cá e o monte de lá, passa o rio de Adrão. Do lado de lá fica o Curral Coberto e do lado de cá são montes de Soajo
Estou a lembrar-me de Paradela, da Várzea, de Cunhas, de Soajo, de Ramil, ... Ramil, é para mim, um caso à parte, no âmbito das minhas montanhas lindas. Ramil, será, penso eu, uma apêndice de Cunhas. Pouco conheço de Ramil! Fui lá algumas vezes e já foi em meados do século passado, meados do século XX. Ora, não tardará muito e estaremos em meados do século XXI. Significa isto que, o disco rígido está a ficar, como dizia a minha mãe, escarafunchoso. Mas tenho lembranças de Ramil!
Recordo-me de um velho amigo de meu pai e meu, o Guarda Florestal Rodas que, saído da área de Paradela, acabou por se instalar na zona de Ramil. Foi apenas por ele que eu conheci Ramil, há muito, muito tempo. Por ele e pela sua família. Caminhei para lá, algumas vezes com o meu pai e, excepcionalmente, quando, ainda pequenote, umas duas três vezes, sozinho. No tempo em que o meu pai me dizia: "tem cuidado Luís, porque há lobas que vão parir ao Curral Coberto"! O meu pai não me mentia e soube que ele viu lá uma loba com dois lobinhos.
Do lado de cá são terras de Soajo, do lado de lá fica a Portela do Galo. Esse montes descem e descendo-os, chegamos a Ramil
Entretanto, por esse tempo, vim a conhecer o meu tio António de Ramil (o tio Ramil) e toda a sua família que era e, ainda são apelidados de Ramil. Provavelmente, a terra dos seus ascendentes, pois eu sei que ele morava em Cunhas, antes de ir para Adrão. Por isso, então, era Ramil para aqui, Ramil para acolá e, mais tarde, passei a ver Ramil dos miradouros da minha serra, lá em baixo, à esquerda do rio de Adrão, fazendo caminhar os meus olhos pela Açoreira. Sempre que estou no Miradouro da estrada para Adrão, olho Soajo, Ramil, ... e muito mais.
Agora, recebi um convite, creio que todos os seus amigos receberam, do Manuel Rodas, um homem que nasceu em Ramil ou passou parte da sua vida de rapaz por Ramil para ir ao lançamento do seu Manual de Ramil. Lá estarei se o Senhor da Esfera mo permitir. Sei que na cara do filho verei a cara do pai, tal como vi quando tive a oportunidade de estar com o seu irmão Firmino, em Paradela. Na cara dos filhos tenho a certeza que vejo a cara do meu grande amigo de criança, o Guarda Rodas.
Do lado de lá, algures, fica Ramil e do lado de cá, fica Soajo
Mas, falando de Ramil, olhando, mentalmente, Ramil, eu verei o caminho para Cunhas pela Açoreira, pelo Curral Coberto, por Ramil, olharei a Encosta ou Costa das vacas, do lado de Soajo, caminharei pela Portela do Galo, subirei à Chãe da Porca, a Facuque e olharei, lá em baixo, o rio que desce direito ao Lima, por baixo da Açoreira e pela Trapela, o rio que o meu amigo Cavaleiro de Soajo me dizia: "temos de descer aquele rio, Luis, à pesca das trutas e dos barbos.
Nunca desci aquele rio abaixo da confluência do rio de Bordença com o rio de Adrão e, quando o passo, lá em baixo, é por cima, pela ponte que liga Soajo a Cunhas. Olho rio acima mas nunca vejo nada. Mas eu sei que aquele pedaço das fraldas da serra de Soajo fazem parte da minha vida de criança até aos 15 anos. Recordo-me de sair dos Poços, com a minha gente, ainda pequenino, carregado com uma cesta de uvas, para o nosso Lagar, na Açoreira. A cesta pesava e eu dava uns saltitos para lançar alguns cachos fora, a subir dos Poços, monte acima, rumo à Portela do Galo. Depois, direito à Açoreira, já aliviado da carga, era sempre a andar. Despejar a cesta de uvas no Lagar e ficar a pensar se valia a pena tanto trabalho para beber uma pinga, com tanta água que havia por Adrão! No dia seguinte iria haver mais e tudo se repetiria. Mais uma cesta com menos uns cachos, para dentro do Lagar. Os pássaros teriam ficado contentes com as uvas que este amigo lhe deixava pelo caminho.
Do lado de cá fica Soajo, do lado de lá, no centro da foto, fica Cunhas e, entre Soajo e Cunhas, à esquerda da caminhada, fica Ramil. Esses montes fazem parte do meu berço ou melhor eles estão situados nas fraldas do meu berço. Neles caminhei e hoje, neles, ainda faço caminhar os meus olhos
Recordo-me, também, de um fogo que queimou toda a floresta do Curral Coberto. Eu, com 11, 12 anos, armado em bombeiro, todo negro, apostado com outros, que o fogo não passaria para a parte debaixo do caminho que nos levava para Cunhas. Uma cobra, já grandota, vinha num alvoroço a fugir das chamas. Alguém gritou: "mata-a, Luis" mas, nesse momento, perante o sufoco de Vulcano, a cobra, animal com o qual eu não podia, passou a minha aliada. Virei a vassoura do mato ao contrário, apanhei-a por baixo com o cabo e tirei-a do fogo mandando-a pelo ar para a minha retaguarda. Recordo-me de pensar: "foge amiga, pára só no rio"! Alguém gritou: "este cabrão não matou a cobra"!
Eu nunca poderia matar a cobra naquela situação. São imagens que me acompanham todos os dias da minha vida e, foi talvez pensando nessa cobra que decretei, apenas para mim que, a partir dali, todos os bichos passariam a ser meus amigos e a serem tratados como tal. Estarei lá,contigo e com Ramil, Manuel Rodas.