Continuo a Sonhar ...
... com as urzes rosas ou roxas, com as urzes brancas, com as flores azuis (do S. João), jesione montana_l., por entre os fetos, com as carrascas (as nossas ericas rosadas) uma das mais belas alcatifas do mundo, ...
Sonho com as minhas caminhadas nos mais belos chãos do mundo.
Mas os mais belos chãos do mundo, são, também, para mim, os chãos do medo. O medo de ficar encostado à sombra de uma rocha, à sombra de uma urze, ou à sombra de fetos, sem hipótese de me levantar e caminhar, mesmo que lentamente, rumo à fonte mais próxima.
jesione montana_ l. ou botão azul (as nossas flores do S. João)
Quando as vejo por aqui, quase me sinto em casa mas, nada como quando as via a embandeirar os sucalcos das lavouras de Adrão
Como é simples o meu querer!
Não peço o euromilhões, não peço uma vida de luxúria, tal como ela é entendida pelo egoísmo das pessoas. Tudo o que eu peço é simples! Caminhar nas minhas montanhas sob o tecto do meu amigo Apolo, ao lado das rainhas das montanhas, ao lado dos garranos, os cavalos semi-selvagens ou selvagens se é que ainda os há. Caminhar pelos trilhos dos lobos, ver saltar os gafanhotos, ver esvoaçar as lindas borboletas azuis e a pousarem nas flores rosadas das carrascas, beber a água cristalina das minhas fontes, das fontes da minha serra.
Fonte da Corga da Vagem
Fonte do Muranho
Como é belo saber que ainda existe um sítio onde nos sentimos felizes quando crianças. Estou-me a lembrar de milhões de crianças que, neste mundo só bebem água que mata, especialmente, das crianças africanas que têm de caminhar quilómetros para beberem uma água barrenta que lhe mata a sede mas que também lhe pode matar a alma. Caminhar quilómetros de cântaros à cabeça para conseguirem água para matar a sede. E dizemos nós mal da terra que nos deu força para nos expandirmos para o mundo.
Por isso, tenho saudades dos meus primórdios porque não sou pobre e mal agradecido. Agradeço ao Senhor da Esfera tudo o que me tem dado e agradeço-lhe, especialmente, o que me deu nos primeiros anos da minha vida.
Como são belos os chascos na serra de Soajo
É natural que lhe continue a pedir para me deixar subir a minha serra, que me deixe caminhar nos trilhos dos meus antepassados, que me deixe falar com as suas belezas. Eu apercebo-me da alegria dos chascos quando lá me vêm e sei que ela será igualzinha à minha. Eles têm tantas saudades minhas como eu tenho deles.