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Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

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Vejam estes golosos a comer rojões assados na serra mais linda do mundo - a serra de Soajo


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Assar rojões na serra de Soajo, nos braseiros dos torgos das urzes, é uma tradição de séculos. Os que eles estão a comer em cima, são estes. Eu estou de serviço às fotos.

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Sonhar com Bordença

Umas três semanas atrás, pensei em rever algumas fotos de Adrão.

Pensei em organizar as fotos à minha maneira, no meu disco externo e separá-las por áreas.

Fotos da Açoreira;

Fotos de Bordença;

Fotos do Lugar, etç.

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Como era bela Bordença! Estas fotos são de Agosto de 20122

Entretanto, fui à televisão ver se havia algum filme que me agradasse e acabei por me deixar ficar.

Deitei-me bem depois da meia-noite e, as fotos acabaram por ficar para outros timings, quem sabe, um Natal qualquer.

Adormeci e comecei a sonhar!

Seria caso para dizer: "a minha alma deve estar parva"!

Mas não estava porque me deixou a dormir e foi passear para Bordença.

Quando dei pela fé, estava a fotografar o rio de Bordença mas, o rio do meu tempo. Tudo como no meu tempo. E não é a primeira vez que sonho com Bordença e um sonho semelhante a este.

No outro sonho, comecei por ver o ti João Rego a despedir-se de mim quando saí de Adrão, rumo a Lisboa. Neste sonho fiquei tempo sem fim a ver o local onde nos despedimos. O socalco estava igual, o chão estava igual mas, ele não estava lá. Olhei, re-olhei, tirei fotos ao local, recordando! Depois, desci ao rio. Estive a ver os buracos onde eu e o João da Piedade, o João Franqueira, escondemos a roupa e descemos nus o rio de Bordença e subimos o rio de Adrão, desde o fundo da Açoreira até Arriba dos Moinhos a fazer tempo para escurecer e entrarmos em Adrão às escuras.

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A ponte de Bordença está escondida pelas árvores, à esquerda

Verifiquei que os buracos ainda lá estavam mas não soube qual deles. Fotografei os buracos, deitei-me a adivinhar, qual deles e, tirei fotos. Saí do rio para os campos de cima, quem sai da ponte, rumo ao Senhor da Paz. Dali fotografava tudo.

As águas límpidas, os carriços, os salgueiros, as silvas, as libelinhas, ...

Saí e fiz toda a encruzilhada do rio, com a velha estrada do Areeiro para o Senhor da Paz. Primeiro de fora, das lavouras, depois rio abaixo e rio acima, sempre a caminhar, saltitando de pedra em pedra e sempre a clicar.

Recordo bem os salgueiros e os carriços do rio de Bordença, a sua beleza e o cantar das águas. Fotografei a ponte de todos os ângulos e tive vontade de voltar a descer o rio de Bordença!

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Do Miradouro, na estrada sobre Bordença

Desta vez, iria vestido e calçado e, como antigamente, saltaria de rocha em rocha, nadaria nos poços onde tivesse de o fazer mas, comecei a pensar que não o podia fazer. Teria de deixar a máquina, a carteira com os documentos, telemóvel, chaves, tudo, escondido num buraco.

Antigamente não tinhamos essas preocupações. Nem BI, nem fosse o que fosse. Apenas a roupa e a sachola. Comecei a pensar que não valia a pena descer o rio sem máquina para fotografar.

Não fotografaria as cobras d'água a esquivarem-se, não fotografaria os sardões, as trutas, as libelinhas, os melros d'água, o guarda-rios, a toupeira d'água, as cabras-cegas.

Não fotografaria os poços do Curral das Cabras, onde nesses tempos pescava e tomava banho. Não fotografava os poços que, então, eram tapados com torrões e pedras para preservarem as águas que, mais tarde, seriam libertadas para encherem o rego que iria regar a Açoreira. Se eu não levava a máquina para fotografar tudo isso e outros monumentos históricos da minha existência, como os moinhos, para quê fazer essa caminhada?

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Vista do miradouro, rumo ao Areeiro

Nah! Vou ter de comprar uma máquina à prova d'água!

Mas, e para quê se não voltarei a descer o rio de Bordença a não ser que a água me leve!

E porquê tanta estima por Bordença se nunca tive lá nada? Tive, tive. Bordença fez parte das minhas caminhadas. Eu sou dos tempos em que caminhava atrás das cabras que não eram minhas. Caminhava a pedido e com muito gosto por Bordença e pelos seus montes. Eu sou do tempo em que a minha madrinha me pegou debaixo do braço e correu campos a fugir aos sons de um machado realizados, segundo ela e outras pessoas por alguém que falecia em Adrão. Até disso me lembrei apontando a máquina para as árvores desse sítio e, recordando!

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Este é uma espécie de Canion granítico que liga Bordença ao fundo da Açoreira. Foto tirada, junto à ponte sobre a estrada que passa sobre o rio de Bordença

Há sonhos fantásticos!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

À Sombra de Azinheira

Ontem, dia 09 de Julho, entre as 09:30h e as 10:45 horas, estive dentro do carro, à sombra de umas azinheiras, junto de um jardim de Lisboa. O termómetro do carro, à sombra, marcava 30º C. Eu ia observando as flores lindas dos aloendros, as hortênsias, as bolotas das azinheiras a crescer, a relva regada, as empregadas da escola, em frente, a fazer as limpezas mas, pássaros, nem um!

Apenas via as andorinhas voando muito alto nas suas caçadas aos insectos. Que seria dos meus amigos penudos? Estariam afastados pelo calor? Não é a primeira vez que paro por ali, nem a segunda, nem a terceira, nem, ... por aí fora. Já lá estive parado com temperaturas amenas, com frio e com calor e sempre lá vi pássaros! Rolas turcas, melros, pintassilgos, pardais, ... gaios! Os pais gaios perseguindo os seus filhotes para os manter agrupados e lhes dar de comer. E ontem, nada! Foi uma hora e 15 minutos sem ver nada!

Comecei a pensar na estratégia para o próximo ano, caso atinja temperaturas semelhantes às que nos têm atingido.

Nestes dias de canícula, caminhar pelos grandes Centro Comerciais como o Colombo, o Alegro e outros. Há sempre coisas para comprar e podem ser compradas pela fresca dos ares condicionados. Ontem por exemplo, comprei um disco externo (2TB) para arquivar as minhas novas fotos. Observei tudo, não com muita calma devido à falta de tempo, bebi o meu café e, deixei outras compras de reserva.

Alto da Pedrada -a meta

No próximo dia de canícula, terei, pelo menos, mais uma compra para fazer. Um cartão adequado para a minha máquina! Não sei se comprar um com 32 GB ou com 64 GB! Já sei que, se conseguir ir à Pedrada, no próximo Agosto, esperarei que não chova, terei que pedir ao meu amigo Eolo para tentar colocar as suas ventoinhas a trabalhar com suavidade. Quero subir a minha serra, sempre em posição de disparo.

Quero atravessar o planalto da Naia a clicar em todas as direcções. Direita, sobre os rouceiros, a Peneda, a Gavieira, ... esquerda, sobre o Alto do Lombo, ... frente, sobre o Muranho, a Derrilheira, a Serrinha, ... e rectaguarda, tudo o que for ficando para trás. Quero observar bem as falhas que fazem deslizar o Alto da Derrilheira, deixando-se abater e ficando mais atarracado.

Portela - para lá Peneda, para cá Adrão

Vou tentar abater dois kg para, quando me encontrar lá em cima, trazer até aos meus olhos, pelo visor da minha máquina, as borboletas que esvoaçarem nos socalcos da Veiga, os coelhos que passearem na Chãe do Ruivo ou, as lagartixas que, nas Fontes caminhem sobre a pedra que serve de lápide ao meu Quico. Da Serrinha, quero trazer até aos meus olhos, o Poulo de Adrão, na serra da Peneda e, ver caminhar entre os seus fetos, as almas da minha gente das grandes transumâncias.

Alto da Derrilheira

Quero subir à Pedrada com a máquina pronta a abrir "fogo" de rajada sobre a cobra que me costuma desafiar e fugir para as pedras do "palácio inacabado", gritando: "salvé, Ventor"!

Quero rebocar o buraco do Fojo do Lobo até à ponta do meu nariz. Quero ouvir a mesma algazarra que ouvi na montaria quando o meu pai matou a loba rabicha, quando as mauzers dos guardas fiscais e florestais cuspiam balas sobre o tal lobo ricocheteando nas pedras de granito e ver nas reentrâncias dos muros as pessoas que gritavam com euforia: "eh, cão, eh, cão", enquanto a desgraçada fugia rumo ao boraco!

 

O nosso Fojo do Lobo

Foi esse o dia que tive perto de mim, a 10-15 metros, o lobo "mau", por duas vezes. Da primeira, fiz tanta algazarra que voltou rumo à corga das Forcadas, depois, sobre o fogo intenso dos que vinham pelo Curral do Pai, voltou a correr em minha direcção, cravou os olhos nos meus e disse: "um de nós vai ficar mal, Ventor"! Foi dessa segunda vez que o Ti Zé Ribeiro, correndo em meu auxílio, apontou a sua espingarda de carregar pela boca e lhe acertou com os pedaços de ferro de um pote velho, no lombo do lobo (depois de morta vimos que era loba), ela desviou-se para a minha direita e iniciou a corrida na direcção que não devia, rumo ao buraco do Fojo. Ela corria por dentro do muro e eu por fora, pedindo a todos os santos para a tirar de lá. Sempre que passo naquele sítio, vejo os olhos da loba cravados nos meus. Se fosse hoje teria arranjado maneira de ela fugir para os lados da Brusca e nunca mais a viam!

 

No monte da parte superor direita desta foto, de manhã, vimos o primeiro lobo nessa montaria. Pela sua cor, podeira ter sido a loba rabicha, morta mais tarde

Foi tudo isso que me levou a pensar, desde então, que os lobos e os homens devem continuar a caminhar juntos na bela serra de Soajo e ficarmos a recordar tudo aquilo, como um monumentos aos nossos antepassados e aos lobos que tombaram nessas lutas inglórias.

É por isso que eu gosto de ir à Pedrada e levo sempre na minha caixa craniana uma vontade enorme de voltar a ver, por lá, mais um lobo, mais um amigo que, tal como os outros, nunca mais esqueceria.

Continuo a viver essas esperanças! A esperança de voltar à Pedrada e a esperança de voltar a ver mais um lobo por lá.

Tenho esperança que a minha máquina me ajude nessa busca.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente