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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Ventor entre as Flores

rio adrão.jpeg

Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


22.07.11

Mês de S. Bento


Ventor

Sim, mês de Julho, mês de S. Bento!

Para mim, mês de grandes caminhadas. Algumas, por Santuários de S. Bento. S. Bento do Cando, S. Bento da Porta Aberta, ... Estes dois santuários, situados nas belas zonas maravilhosas do Minho. S. Bento do Cando, nas minhas Montanhas Lindas, S. Bento da Porta Aberta, nos contrafortes da serra Amarela. Os dois, são belezas do meu mundo!

Em 2006, na nossa descida da Pedrada e de passagem pela Fonte da Naia. O trio dessa grande caminhada, eu, o Luis Perricho e o Jack. Nesse ano, a Fonte da Naia estava linda e eu adoro mexer e beber daquela água

Hoje, neste mês de S. Bento, não consigo fazer uma caminhada. Estou aqui, sentado no meu carro, à espera que o meu "malmequer", faça, na passada que lhe convier, uma caminhada pela IKEA.

Eu fiquei aqui, no carro, à sombra, esperando que o emplastro que ela me colocou no fundo das costas, faça o seu trabalho de sapa e ela, provavelmente, espera que eu, em passadas suaves, me encontre pelos sítios das minhas amigas perdizes. Mas não! Estou aqui em baixo e, sem vontade de sair do carro.

À minha frente, tenho a relva verdinha, um pinheiro manso, bonitão, alegrando-me como pode e, por isso, me disse: "imagina, Ventor, que estás no Cerdeiral"!

A pedido do pinheiro, imagino que sim! Mas tenho outras imaginações e lembranças. Lembro-me, quando pequenote, caminhava, ao lado de minha mãe, no caminho da Açoreira, quando íamos regar o milho e ela me ensinava a conhecer os meses. Para aprender, eu caminhava ao lado dela. Não fosse isso e, iria bem lá à frente, a espantar as lagartixas ou, então, bem cá atrás, à procura da cobra ou do lagarto que, fugindo de mim, me faziam acreditar que me queriam amedrontar. Foi no caminho da Açoreira que eu iniciei o treino, para não ter medo de nada.

As flores das carrascas, são belezas das minhas Montanhas Lindas. Todas elas saúdam o Ventor

Mas recordo aqui, como eu aprendi a conhecer os meses, do primeiro ao último:

Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, S. João, S. Bento, Agosto, Setembro, S. Miguel, S. Martinho e Natal.

Nesse tempo, também a minha mãe me ensinava a contar, brincando e, o meu pai lhe dizia para não me baralhar a cabeça. "Não baralhes a cabeça ao moço. Qualquer dia, nunca mais aprende a contar"!

Não há como embaralhar esta cabeça tonta e eu ensino-lhe o que sei:

Una, duna, tina, catuna, catunal, advogal, jerupia, jerupez, conta bem, que são dez!

Nunca mais me esqueci desta contagem.

Foi, pelos anos fora, o mês de S. Bento, o mês que mais vezes me levou a Adrão e, com isso, o mês que mais vezes me levou à Pedrada. Umas vezes de manhã, outras vezes de tarde e, outras, o dia todo. Como o meu tempo foi sempre pouco, chegava a ir à Pedrada e voltar em quatro horas. Isso, já acabou! Agora, revejo cada pedra, cada moita e aponto a máquina em todas as direcções. Sempre diferente, sempre igual! Há muitos anos que não faço o velho trilho da Férrea, Chãe do Boi, Fonte da Naia. Tenho deixado esse trabalho para a minha máquina. Ela tem passado lá por mim. Mas espero, um dia, repetir esses trilhos.

O meu belo companheiro anterior. Cometi um erro tê-lo trocado. Um dia destes vi-o passar levado por outras mãos. Uma beleza de carro que deu cabo da direcção numa Avenida de Lisboa, esburacada. Não quis gastar uns 700 euros na sua reparação por falta de confiança na mesma. Preferi a sua irmã novinha mas, ao vê-lo passar, tive saudades dele

Hoje, sentado no meu carro, sem poder ir à procura das minhas amigas perdizes nem caminhar pelas lojas da IKEA, sinto o emplastro queimar-me a pele, enquanto o meu cérebro faz as caminhadas que eu desejava, cavalgando pelos trilhos de Adrão.

Apetecia-me meter-me no carro, cedinho, galgar quatro horas de estradas e ir tomar o pequeno almoço a Ponte da Barca ou Arcos de Valdevez. Subir a S. Bento, nos Arcos, meter a minha madrinha no carro, levá-la a S. Bento do Cando, à Senhora da Peneda, almoçarmos em qualquer lado, podia ser no Miradouro, em Castro Laboreiro, regressar pela Cascalheira e beber água nas Fontes. Deixando a sede a boiar nos fetos das Fontes, junto ao meu Quico, regressar por Paradela, Cunhas e, em Soajo, observar a "casa" onde a minha madrinha me apresentou ao Senhor da Esfera, governada por nossa Senhora das Dores.

Regressar aos Arcos, comer um jantarzito apressado, para não me dar sono pelo caminho e, lá pela uma da manhã, deitar-me na minha cama bem cansado e continuar sonhando com os trilhos que meus olhos haviam pisado. Seria uma bela caminhada com cerca de 1.000 kms de prazer. Mas não posso! Algum desse tempo, seria perdido a entrar e a sair do carro, com uma ou outra ganideira, no caso de conseguir manter-me lá sentado, O Senhor da Esfera não quer, por isso eu não faço porque não há emplastro que me valha.

Belezas dos meus montes - as Fontes. Nem o tanque nem o poço, em baixo, são dos primórdios do meu tempo. Nasceram depois. O tanque dá muito jeito para os animais beberem à vontade e o poço, espero que nunca faça falta para apagar incêndios mas estará lá para isso e, se calhar, para os javalis olharem

Continuei a olhar o pinheiro, rodeado de verduras, fazendo voltar a minha mente, ao Cerdeiral!

Este pinheiro, no meio do verde, é um pinheiro lindo e, hoje, quem liga a um pinheiro? Ligo eu, porque se trata do belo pinheiro que há mais de 50 anos nos fornecia pinhões, aos alunos da escolinha do Senhor da Paz, em Adrão


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

01.07.11

Gostava de Falar de Adrão ...


Ventor

... das suas alegrias e não das suas tristezas.

Eu tento sempre esquecer as suas tristezas mas, nem sempre consigo!

Hoje, o que eu gostaria mesmo, era de estar a fazer as malas e partir a caminho das minhas Montanhas Lindas. Caminhar no meu Berço de Rocha, com o nariz levantado, sempre, passo a passo, rumo ao Alto da Derrilheira. Caminhar entre os fetos da Naia, direito à sua fonte, conversar com os sapos, beber água se estivesse tragável e, olhando em volta, iniciar o rumo ao Muranho, beber água na sua fonte e prosseguir, no mesmo passo a passo, sobre o tapete de carquejas e carrascas, observando as galantas curiosas ...

Inclinar-me à esquerda e, desse alto, pontiagudo e mágico, observar, lá em baixo, os montes das minhas primeiras passadas: os caminhos para a Açoreira, pelo Grilo, a Portelinha, o Barroco, o Poulo da Fraga, a Centieira, a Chãe do Ruivo, as Fontes, o Gondomil, o Marco d'Alem, a Veiga e, para minha tristeza, os telhados de Adrão, sem fumo, sem lareiras, mas com gás ou electricidade, sinónimo do progresso que não foi do meu tempo. Provavelmente, alguém seria capaz de ligar a lareira a lenha, para assar uma fatia de pão e, se mais não fosse, para animar o Ventor.

Uma das belas flores, companheiras das minhas caminhadas, na minha serra - a serra de Soajo

Eu sei que, se o Senhor da Esfera me deixar, voltarei a passar por isso! Voltarei a caminhar ao lado dos chascos, os chascos dos meus montes e não dos chascos de outros montes. Caminharemos lado a lado, conversando, de moita em moita e, depois de ver todos os caminhos dos meus sonhos, de completar, calcorreando, esse tapete esverdeado de carqueja, rumo à Pedrada e de fazer o inverso, ficarei sentado, aqui, em frente desta minha janela, a observar tudo e a pensar se, um dia, voltarei a caminhar nesses trilhos de sonhos.

Infelizmente, não farei as minhas malas, não caminharei nas tapeçarias de carqueja, não ouvirei os chascos e, nem sei, embora tenha esperança de que, mais uma vez, ou mais umas vezes, repetirei essas caminhadas e falarei das suas alegrias.

Mas sei que, hoje, lamentavelmente, falarei das tristezas de Adrão! Das alegrias do passado, transformadas, com o tempo, em tristezas.

Recordo-me de, quando nos anos oitenta (80'), eu fazia algumas das minhas caminhadas por Adrão, encontrar, junto da minha gente, a nossa amiga Teresa da Clara e, por razões várias, os seus filhotes, o Zé e o Afonso. Recordo mais o Afonso, o mais novo e acho que eles faziam parte da geração que me seguiu. Vi-os, tal como eu, noutros tempos, a trabalhar o cimento e recordava-me que, em Adrão, fui o primeiro puto a trabalhar o cimento com os homens que construíram a primeira casa de tijolo e cimento, ainda nos anos cinquenta - a Casa do meu amigo Rio Frio. Quando me recordo dos putos da Teresa da Clara, senhores da mesma azáfama, anos depois, acredito que estou mesmo velho! E, reparando nisso, faço balanço para quantas vezes mais poderei subir à Pedrada.

O mais belo Alto da mais bela serra - a serra de Soajo

Hoje penso nos filhos da Teresa da Clara e como o Senhor da Esfera lhe roubou o primeiro. Eu a pensar que ele andaria a tratar da vida por esse mundo e, ele a morrer, em Adrão, no Berço de Pedra que o viu nascer. Como a vida é madrasta para tanta gente! Eu sei que, provavelmente, o Senhor da Esfera me  dirá: "não fui eu, Ventor, foram as Parkas e, contra elas, eu nada posso"! Pois não! Eu estou aqui a escrever porque as Parcas ainda não me toparam ou, porque, quando elas tentavam cortar o fio, a força não lhes era suficiente.

Mas eu não gosto de falar disso. Só vou pedir ao Senhor da Esfera para ajudar a Teresa da Clara e o seu outro filhote, o Afonso, a levarem a sua vida normal, tão normal quanto possível. E, embora saiba que a Teresa da Clara não vai ler este meu post, pelo menos, em telepatia, lhe deixo aqui os meus pêsames para ela e para toda a família, pelo roubo que as forças que moldam o nosso destino lhe fizeram.

Que Deus te ajude Teresa.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente