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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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rio adrão.jpeg

Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


13.09.10

Soajo, o Desastre dos Incêndios


Ventor

Os incêndios, são uma tormenta para as pessoas e seus bens;

Os incêndios, são uma tormenta para os animais domésticos, para os animais selvagens, para a flora, para ...

(Deixo-vos algumas fotos, dos fogos de Soajo, aqui, no Shutterfly)

Todos sabemos, estamos fartos de o ouvir dizer, que a maioria dos incêndios, pelo menos, muitos incêndios, são fogos postos ou então, as autoridades suspeitam disso. Também sabemos, porque fartamos-nos de o ouvir, nas TV's e companhias, que as autoridades vão apanhando suspeitos desses fogos postos.

As fraldas das minhas Montanhas Lindas, são devoradas por chamas assassinas, há 8 dias. São 8 dias de tristeza, de sofrimento de pessoas, de animais, de tudo que resiste em volta dessa fúria demoníaca.

Como já todos sabemos isso, mais ou menos, até temos um Ministro especialista a fazer as comparações de incêndios, referentes aos últimos anos e para ser franco, por essas comparações tão assíduas e por tantas outras coisas desse e de outros ministros que me vão exaucrinando os ouvidos é que eu tanto lamento pelo futuro deste país. O tal país que todos ouvimos falar que foi, porque eu não vejo que o seja, talvez na Idade Média ou no tempo da Idade da Pedra, à beira mar plantado!

Por isso, por sabermos já de tudo ou quase, sobre incêndios, eu vou falar aqui dos que me tocaram mais de perto, aqueles que, tão tristemente, vão destruindo tudo, pelas minhas Montanhas Lindas.

Quando, no sábado,  chegamos a Soajo, vindos de Castro Laboreiro, para rumarmos a Lisboa, encontramos a continuação da acção destruidora deste fogo que durava há oito dias. Saímos de Lisboa numa 2ª feira e ele tinha começado no sábado anterior e partimos com ele em plena fúria, após actos contínuos de reacendimento segundo ouvimos às autoridades

Quando saí da minha casa, caminhando rumo a Norte, levava na minha bagagem as tormentas dos incêndios, que preocupam todos mas, dois deles, preocuparam-me por todo o caminho: "o incêndio de Soajo e o incêndio da Mata de Cabril".

Quando, pela tarde, chegamos a Soajo, embora que, em lume brando, as fumarolas, os cheiros a queimado, a escuridão da área ardida ainda lá estavam. Era segunda-feira, à tarde, e nós seguimos rumo ao Hotel da Peneda.

Nos cinco dias que se seguiram, sempre que me deslocava, em redor das minhas montanhas Lindas e por terras da Galiza, não perdia de vista as fumarolas de Soajo e da Mata de Cabril. Mesmo quando não as via, aquelas zonas do céu, nas suas verticais, mostravam-me as terríficas negridões das fumarolas que subiam, como lá estariam as coisas e como tais incêndios causam tanto mal.

Enquanto os meus olhos reparavam nessa escuridão do horizonte elevado, rodando rumo a Caminha, a Baiona, na Galiza, e mais tarde rumando para Melgaço, em direcção a Castro Laboreiro, a minha alma ouvia lá longe, os gritos de tudo o que morria à passagem das terríficas labaredas. As flores dos montes de Cabril, na serra Amarela (eu gosto de tratar os bois pelos nomes) e das fraldas das minhas Montanhas Lindas, no lado oposto, gritavam quanto podiam pelo socorro do Ventor! Junto com os gritos das flores, das árvores, dos matos, chegavam os gritos de todos os outros seres vivos, os pássaros em fuga, os gafanhotos, os besouros, os coelhos, os lagartos, as lagartixas, ... tudo! Mas o Ventor nada podia fazer e nem tinha como ajudar! Ao cair da noite, junto de uma terra chamada Alcobaça, situada, algures, entre Melgaço e Castro Laboreiro, eu via lá longe as labaredas a destruir tudo, enquanto a noite descia.

Na nossa caminhada da Barragem de Lindoso (onde os Canadairs iam abastecer-se de água) para Ponte da Barca, assistimos à azáfama daqueles que se empenhavam nessa luta sem tréguas, para debelar a hidra de cabeças sem fim. Este helicóptero abastecia-se de água na barragem de Touvedo e ia despeja-la, tanto quanto possível, sobre uma das cabeças da hidra que caminhava diabolicamente rumo ao berço do Ventor - a sua Assureira e Adrão

Durante a minha caminhada pela Pedrada, ao chegar ao Muranho, uma ave espavorida, que eu nunca tinha visto, pelas minhas Montanhas Lindas, passou sobre a gente e foi pousar bem cansada sobre uma moita de urze, junto da Celeste. Eu caminhei para lá, com a máquina em posição de fotografar, mas ela, aterrada, levantou voo em direcção do sol e as duas fotos que lhe tirei, não dão para a identificar. Aposto que essa ave sentia que o seu mundo estaria para acabar!

Depois, mais tarde, na Portela de Baixo, frente à Fraga da Nédia, estive a fotografar os Canadairs que passavam sobre os montes de Paradela para se abastecerem de água na barragem de Lindoso, para despejar nas labaredas que teimavam em queimar tudo que existia em volta de Soajo. Mas nada podia deter as chamas! A noite ia cair e os Canadairs iriam deixar de poder operar e tudo iria recomeçar. Na sexta-feira tudo continuava como na véspera. Saídos de Castro Laboreiro, rumando a Arcos de Valdevez, os bichinhos e as flores que o Senhor da Esfera colocou nas minhas Montanhas Lindas, continuavam espavoridos e, muitos deles, a serem devorados pelas chamas.

Os Canadairs, abasteciam-se na Barragem de Lindoso e despejavam as águas, incansàvelmente, nas várias cabeças da hidra 

No sábado, quando estávamos de partida, rumo a Lisboa, sem desprimor para a tarefa árdua dos bombeiros, concluí que não valia a pena lançar os Canadairs e os Helicópteros contra as chamas devoradoras e insaciáveis de matos que tentam sobreviver à morte, morrendo e revivendo, deixando no seu espaço, em tempos de secura, autênticos barris de pólvora.

Pelo menos, um dos Canadairs era francês, creio que a França enviou dois e eles, religiosamente, faziam a sua caminhada de vai-vém entre a Barragem e as zonas dos incêndios, procurando tirar o maior rendimento possível da sua acção sobre a hidra

Tanto quanto me pareceu, os Canadairs, ou outros aviões que haja por aí, para apagar incêndios, ou actuam imediatamente ou, chegando tarde, a sítios como os montes do Parque da Peneda-Gerês, tornam-se, na prática, inúteis. Eles iam carregar água na barragem de Lindoso e descarrega-la, logo ali, ao lado, nos montes de Soajo. Mas, no seu vai-vem, mal despejavam a água, quando regressavam, e olhem que é bem perto, já o fogo devorava a água e tudo onde ela tinha caído.

Eu não percebo nada disso, nunca fui bombeiro embora já tenha apagado incêndios, nos tempos que os matos não eram pólvora, acho que em fogos como os de Soajo e de Cabril, dois Canadairs e helicópteros, nada podem fazer! Como não há mais, ouvi dizer na Rádio que vieram dois de Itália e dois de França, ou então foram notícias confusas, mas sei que um dos dois Canadairs que actuaram, em Soajo, no sábado, era francês. Para um fogo como o de Soajo, para debela-lo logo no primeiro dia, eu penso que só com quatro ou seis Canadairs. Depois, nem uma dúzia. As labaredas levam tudo à frente. Não é por acaso que alguém dizia: "quando julgamos que está tudo apagado ele reacende-se"!

Assim, enquanto na minha caminhada pela Pedrada as rainhas das Montanhas me perguntavam porquê (?), as flores me sorriam, inocentemente, sem se aperceberem do horror que as espreitava lá de longe

Eu pergunto: "reacende-se ou há alguém que não o quer ver apagado"? Pelo que ouvi, é uma pergunta com cabimento! Nós passamos na estrada de Soajo para Arcos de Valdevez e vimos gente de várias corporações de Bombeiros deste país, estacionados na área do Mesio. Outros encontramos pelo caminho, rumo ao mesmo destino.

Mas quando saía de Adrão e vi, lá em baixo, os montes dos dois lados do rio de Adrão a arder, pensei que nada iria escapar. Partindo do fundo de Soajo, já nos arrabaldes do velho moinho da Trapela e de Ramil, as chamas devoravam tudo. O meu pensamento foi que não haveria Canadairs que protegem-se a nossa Assureira. Os carvalhos da Assureira iriam arder todos e, com eles, os melhores tempos da minha vida!

Ainda hoje não sei onde o fogo foi detido e quantos Canadairs foram utilizados, mas olham que, se há matos pólvora, aqueles matos devem ser o mais perfeito que há! 

Estive lá em 28 de Agosto de 2006 e, este ano, a pólvora já estava com mais 4 anos de crescimento e de secura em cima.

Voltarei aqui para vos continuar a falar dos incêndios e do Parque Nacional da Peneda-Gerês, agora, mais uma Maravilha Natural de Portugal!|


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente