Depois daquele diálogo com o sapo da Fonte da Naia e o outro lá atrás a registar tudo, pois logo que me viu, saltou para dentro de água para iniciar a sua máquina e tomar nota do diálogo entre o outro e eu, despedi-me deles e iniciei a caminhada até à Ferrada. Fiquei um pouco embaralhado quando descobri lá, todo refastado, a apreciar as belezas dos seus trajectos e as brandas dos rouceiros, o Jipe do Zé Manel com uma guarda de honra de meia dúzia de cavalos garranos.
(Deixo-vos algumas fotos, aqui, no Shutterfly)
O Jipe do Zé Manel descansava, na Ferrada, pois, a subida do Muranho, custa também aos jipes!
Observei tudo em volta e, nada mais via que não fossem as paisagens, os cavalos e as vacas, além do jipe. Iniciei, então, a subida rumo ao Muranho e olhem que não foi nada fácil! Cada vez estou mais enferrujado para estas coisas, mas não é nada fácil, sofrer da coluna, cavalgar 168 cavalos de uma só vez, todos os dias de manhã à noite e, depois, armado em pimpão, querer, como nos velhos tempos, subir aqueles montes com caminhada em passo marcial.
Lá cheguei ao Muranho e, como a caminhada não tinha a celeridade que eu pretendia, fui procurando, pelo caminho, um salgueirinho que lá encontramos o ano passado, mas nada!
Esta galanta já terá ouvido falar do Ventor mas, certamente, nunca o terá visto por ali. Quem sabe?
Junto dos cortelhos do Muranho, verdadeiros monumentos, cheio de sede, notei outros rastos do meu Maralhal, mas eu queria era a fonte. Aquela bela nascente do nosso contentamento. Fora da porta do cortelho, haviam sinais da presença dos novos suevos do séc. XXI. Ainda pensei que algum ficasse por ali com birrice em acompanhar o meu amigo Apolo até à Pedrada, mas eles tinham saído cedo. A hora marcada era às 6 da manhã em Adrão e, mesmo que, houvesse algum atraso, eles tinham sobre mim uma vantagem de 3 a 4 horas. Se cumprissem a hora, o Luís saiu de Ponte da Barca às 5 da manhã, eu saí do fojo às 10, era um tempo abismal mas chamei se estava alguém na escuridão do cortelho. Nestas coisas, quase sempre há cansados, mas não. O único cansado era o Tomé, o cão do Zé Manel. Espreitei o Cortelho e lá estavam duas lanternas vermelhas - os seus olhos.
Os cavalos já conhecem o jipe e, como tal, esperam que o forasteiro siga o seu caminho e deixe o jipe descansar. Esperam chegar, junto dele, primeiro que o Ventor!
"Que fazes aqui Tomé"?
«Olha, durmo, se me deixares"!
"Que é feito dos gajos"?
«Deixaram-me a dormir na Corga da Vagem à sombra das urzes. Partiram e não me chamaram! Quando acordei e não os vi, não segui o rasto, apenas os mandei à fava e voltei para aqui, este belo palácio, onde a sombra é saborosa»!
«Chegaram à Corga da Vagem, onde as horas não contam, só conta o desgaste da subida e, ainda muito cedo, lançaram garras ao farnel e eu achei que era tempo para arranjar um pouco da vida de cão e fui fazer o que mais gosto. Encostei-me à sombra de uma urze e esqueci a algazarra dos gajos. Adormeci! Ao acordar não vi ninguém e, não estive com meias medidas. Tirei a bússola, analisei o terreno e, regressei, rumo ao Muranho. Agora, aqui estou, nesta fresquinha toda, só para mim! Se fosse a ti deixava-me ficar por aqui porque iniciar essa subida com este calor só de lobo doido. A Pedrada é sempre a mesma e não sai do sítio».
Este cavalo observa a caminhada dos companheiros depois de ter dado as boas-vindas ao Ventor
"A Pedrada não sai do sítio, Tomé, mas eu gosto de a ver lá parada a espreitar sobre os outros cabeços e eu gosto de espreitar de cima dela, tudo em volta. Fica bem Tomé e vai sonhando enquanto dormes porque, quando eu voltar, ainda vais estar aqui»!
Voltei a olhar a subida do Muranho à Derrilheira. Era quase meio dia, estava calor e continuei a caminhada até à fonte. Bebi dois copos cheios de água gelada, acabadinha de sair da "friza" e lá reiniciei mais um troço da minha caminhada.
Com um andar sarronco, deixei de lado o troço que seria, com um pouco de vontade para jipes e caminhei sobre o mato, em subida mais íngreme e mais curta. Não me desviei para o Alto da Derrilheira, deixei isso para o regresso e rumei à Fonte da Corga da Vagem onde cheguei às 12:41, depois de fazer uma inspecção a uma das flores que nunca tinha visto na minha serra. Apenas o ano passado, em 9 de Agosto, a encontrei na Fonte das Forcadas e, como seria de esperar, fotografei como uma das maravilhas deste mundo. Este ano encontrei-as um pouco antes de chegar à fonte da Corga da Vagem. Foi um fotografar!
A Fonte da Corga da Vagem, nas minhas Montanhas Lindas
Não bebi água! A sede era muita, mas a fonte estava quase estanhada, lembrei-me dos sapos da Naia e desisti. Enquanto transportava as minhas duas cervejas às costas, quentes como o caldo, ninguém tivesse pena de mim. Quando regressasse ali, meteria uma cerveja na "friza" e depois de bebe-la, eu estaria preparado para voltar ao Muranho onde, aí sim, voltaria a matar a sede.
Tirei fotos às minhas flores azuis, às vacas deitadas no Cabecinho, e no poulo acima e, dirigi-me corga acima, onde encontrei a refrescar uma garrafa de vinho, no meio da água a fazer-me um convite de boas vindas. Puxei-a com o cajado que levava feito à pressa na Portela e, para meu azar, tive pena do dono ou donos da garrafa e desisti dela. Quem sabe se para o ano eu vejo por aqui fotos dos mesmos exploradores de petróleo ou outros!
Em caminhada acelerada, tanto quanto podia, debaixo de um sol quente, mas não escaldante, talvez como os américas a sair do Iraque, dirigi-me à Fonte das Forcadas onde, este ano, não haviam as minhas belas florzinhas azuis encontradas o ano passado, nem escorrichavam da terra as primeiras águas da Corga da Vagem, este ano nasciam mais abaixo, torci à esquerda, caminhei no espaço do meu sonho com os lobos e, sem nevoeiros como no sonho, dirigi-me, encosta acima, por entre jovens urzes renascidas após o fogo de 2006, até ao Outeiro Maior - a Pedrada.
O marco geodésico no Outeiro Maior - o Alto da Pedrada
Fotografei tudo em volta e, mais uma vez, e outra, e mais outra, e ... fui observando os malfadados fogos que queimavam as raízes das minhas Montanhas Lindas, lá por baixo, nas encostas de Soajo, junto ao rio Lima, no Gião, na serra Amarela (a mata de Cabril), e fumos espalhados sei lá por onde. Uma pena, uma tristeza, uma vergonha! Depois, ali, só, no pináculo do meu mundo, onde o telemóvel não serve para nada, tal como o lobo solitário, pensei na próxima tarefa e onde ir matar a sede. Duas cervejas eram a minha reserva!