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Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

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Vejam estes golosos a comer rojões assados na serra mais linda do mundo - a serra de Soajo


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Assar rojões na serra de Soajo, nos braseiros dos torgos das urzes, é uma tradição de séculos. Os que eles estão a comer em cima, são estes. Eu estou de serviço às fotos.

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Notícia boa e notícia má

Hoje, por volta das 20:45, recebi uma chamada no meu telemóvel!

Não foi uma chamada como tantas e tantas outras. Foi uma chamada de Ponte da Barca.

O meu amigo Luis, o Luis Perricho, o nosso amigo Luis Perricho, que veio de França passar uns dias de férias a Portugal, telefonou-me de Ponte da Barca para me informar que esteve envolvido no terrível acidente da A-25, do início da semana, onde chocaram dezenas de viaturas.

Ficou sem carro, percebi que ainda nem o viu!

Numa caminhada pelas nossas Montanhas Lindas, no Muranho

Parou o carro atrás dos envolvidos à frente, disse à esposa para sair dali rapidamente e cada um saiu fora. Ele saltou para fora da A-25 e, de repente viu a esposa no meio da auto-estrada (curiosidade no acidente?) a ver como sair dali. Quis ir busca-la mas, um camião e outros que atropelaram tudo não deixaram. No meio de tanta chuva e nevoeiro, ele ficou de um lado e ela do outro. O carro esmagado, atirado contra os da frente e ele à procura da sua companheira de tantos anos, meteu-se num táxi e foi dar com ela no Hospital de Viseu com algumas escoriações.

Foi meter-se em Adrão, sem telemóvel, porque lá não há rede, e só hoje me deu a notícia. Por isso eu costumo dizer que, a TMN e a Telecel são uma porcaria nas nossas Montanhas Lindas!

Foi para a Barca para tratar das suas coisas a partir de amanhã e, se tudo correr bem, tem o regresso marcado para França, na próxima sexta-feira, de avião. Terá sido terrível, penso eu, mas os lobos da Pedrada estão habituados, na vida, a passar por tudo e vão resistindo! Resistindo enquanto o Senhor da Esfera quiser. E ele vai querendo, pela Sua Graça.

Numa caminhada pelas nossas Montanhas Lindas, no Muranho

Eles foram a Castelo Branco visitar uns amigos e passar lá uns dias. No regresso, quiseram passar pela serra da Estrela e, por portas e travessas, foram meter-se na A-25 onde tudo correu mal.

Para aqueles de Adrão que passarem por aqui, eu deixo a notícia.

Boa viagem Luís e Celeste até á terra des Enfants de la Patrie. Se ficarem pela Barca, ainda falaremos.

A notícia foi má porque, todos os acidentes são uma tristeza, mas a notícia foi boa porque, o Senhor da Esfera os protegeu.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Da Naia à Pedrada

Depois daquele diálogo com o sapo da Fonte da Naia e o outro lá atrás a registar tudo, pois logo que me viu, saltou para dentro de água para iniciar a sua máquina e tomar nota do diálogo entre o outro e eu, despedi-me deles e iniciei a caminhada até à Ferrada. Fiquei um pouco embaralhado quando descobri lá, todo refastado, a apreciar as belezas dos seus trajectos e as brandas dos rouceiros, o Jipe do Zé Manel com uma guarda de honra de meia dúzia de cavalos garranos.

(Deixo-vos algumas fotos, aqui, no Shutterfly)

O Jipe do Zé Manel descansava, na Ferrada, pois, a subida do Muranho, custa também aos jipes!

Observei tudo em volta e, nada mais via que não fossem as paisagens, os cavalos e as vacas, além do jipe. Iniciei, então, a subida rumo ao Muranho e olhem que não foi nada fácil! Cada vez estou mais enferrujado para estas coisas, mas não é nada fácil, sofrer da coluna, cavalgar 168 cavalos de uma só vez, todos os dias de manhã à noite e, depois, armado em pimpão, querer, como nos velhos tempos, subir aqueles montes com caminhada em passo marcial.

Lá cheguei ao Muranho e, como a caminhada não tinha a celeridade que eu pretendia, fui procurando, pelo caminho, um salgueirinho que lá encontramos o ano passado, mas nada!

Esta galanta já terá ouvido falar do Ventor mas, certamente, nunca o terá visto por ali. Quem sabe?

Junto dos cortelhos do Muranho, verdadeiros monumentos, cheio de sede, notei outros rastos do meu Maralhal, mas eu queria era a fonte. Aquela bela nascente do nosso contentamento. Fora da porta do cortelho, haviam sinais da presença dos novos suevos do séc. XXI. Ainda pensei que algum ficasse por ali com birrice em acompanhar o meu amigo Apolo até à Pedrada, mas eles tinham saído cedo. A hora marcada era às 6 da manhã em Adrão e, mesmo que, houvesse algum atraso, eles tinham sobre mim uma vantagem de 3 a 4 horas. Se cumprissem a hora, o Luís saiu de Ponte da Barca às 5 da manhã, eu saí do fojo às 10, era um tempo abismal mas chamei se estava alguém na escuridão do cortelho. Nestas coisas, quase sempre há cansados, mas não. O único cansado era o Tomé, o cão do Zé Manel. Espreitei o Cortelho e lá estavam duas lanternas vermelhas - os seus olhos.

Os cavalos já conhecem o jipe e, como tal, esperam que o forasteiro siga o seu caminho e deixe o jipe descansar. Esperam chegar, junto dele, primeiro que o Ventor!

"Que fazes aqui Tomé"? 

«Olha, durmo, se me deixares"!

"Que é feito dos gajos"?

«Deixaram-me a dormir na Corga da Vagem à sombra das urzes. Partiram e não me chamaram! Quando acordei e não os vi, não segui o rasto, apenas os mandei à fava e voltei para aqui, este belo palácio, onde a sombra é saborosa»!

«Chegaram à Corga da Vagem, onde as horas não contam, só conta o desgaste da subida e, ainda muito cedo, lançaram garras ao farnel e eu achei que era tempo para arranjar um pouco da vida de cão e fui fazer o que mais gosto. Encostei-me à sombra de uma urze e esqueci a algazarra dos gajos. Adormeci! Ao acordar não vi ninguém e, não estive com meias medidas. Tirei a bússola, analisei o terreno e, regressei, rumo ao Muranho. Agora, aqui estou, nesta fresquinha toda, só para mim! Se fosse a ti deixava-me ficar por aqui porque iniciar essa subida com este calor só de lobo doido. A Pedrada é sempre a mesma e não sai do sítio».

Este cavalo observa a caminhada dos companheiros depois de ter dado as boas-vindas ao Ventor 

"A Pedrada não sai do sítio, Tomé, mas eu gosto de a ver lá parada a espreitar sobre os outros cabeços e eu gosto de espreitar de cima dela, tudo em volta. Fica bem Tomé e vai sonhando enquanto dormes porque, quando eu voltar, ainda vais estar aqui»!

Voltei a olhar a subida do Muranho à Derrilheira. Era quase meio dia, estava calor e continuei a caminhada até à fonte. Bebi dois copos cheios de água gelada, acabadinha de sair da "friza" e lá reiniciei mais um troço da minha caminhada.

Com um andar sarronco, deixei de lado o troço que seria, com um pouco de vontade para jipes e caminhei sobre o mato, em subida mais íngreme e mais curta. Não me desviei para o Alto da Derrilheira, deixei isso para o regresso e rumei à Fonte da Corga da Vagem onde cheguei às 12:41, depois de fazer uma inspecção a uma das flores que nunca tinha visto na minha serra. Apenas o ano passado, em 9 de Agosto, a encontrei na Fonte das Forcadas e, como seria de esperar, fotografei como uma das maravilhas deste mundo. Este ano encontrei-as um pouco antes de chegar à fonte da Corga da Vagem. Foi um fotografar!

A Fonte da Corga da Vagem, nas minhas Montanhas Lindas

Não bebi água! A sede era muita, mas a fonte estava quase estanhada, lembrei-me dos sapos da Naia e desisti. Enquanto transportava as minhas duas cervejas às costas, quentes como o caldo, ninguém tivesse pena de mim. Quando regressasse ali, meteria uma cerveja na "friza" e depois de bebe-la, eu estaria preparado para voltar ao Muranho onde, aí sim, voltaria a matar a sede. 

Tirei fotos às minhas flores azuis, às vacas deitadas no Cabecinho, e no poulo acima e, dirigi-me corga acima, onde encontrei a refrescar uma garrafa de vinho, no meio da água a fazer-me um convite de boas vindas. Puxei-a com o cajado que levava feito à pressa na Portela e, para meu azar, tive pena do dono ou donos da garrafa e desisti dela. Quem sabe se para o ano eu vejo por aqui fotos dos mesmos exploradores de petróleo ou outros!

Em caminhada acelerada, tanto quanto podia, debaixo de um sol quente, mas não escaldante, talvez como os américas a sair do Iraque, dirigi-me à Fonte das Forcadas onde, este ano, não haviam as minhas belas florzinhas azuis encontradas o ano passado, nem escorrichavam da terra as primeiras águas da Corga da Vagem, este ano nasciam mais abaixo, torci à esquerda, caminhei no espaço do meu sonho com os lobos e, sem nevoeiros como no sonho, dirigi-me, encosta acima, por entre jovens urzes renascidas após o fogo de 2006, até ao Outeiro Maior - a Pedrada.

O marco geodésico no Outeiro Maior - o Alto da Pedrada

Fotografei tudo em volta e, mais uma vez, e outra, e mais outra, e ... fui observando os malfadados fogos que queimavam as raízes das minhas Montanhas Lindas, lá por baixo, nas encostas de Soajo, junto ao rio Lima, no Gião, na serra Amarela (a mata de Cabril), e fumos espalhados sei lá por onde. Uma pena, uma tristeza, uma vergonha! Depois, ali, só, no pináculo do meu mundo, onde o telemóvel não serve para nada, tal como o lobo solitário, pensei na próxima tarefa e onde ir matar a sede. Duas cervejas eram a minha reserva!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Como um Lobo Solitário

No dia 12 de Agosto, neste ano de 2010, levantei-me muito cedo no Hotel de Castro Laboreiro. Espreitei pela janela e, grande desilusão, as nuvens, bem negras, voavam no horizonte, bem baixinhas.

Fui tomar duche e, sem esperanças, aperaltar-me para, se o tempo me deixasse, realizar a minha esperada caminhada à Pedrada. Quando tomava duche, pensei na hipótese de, se a chuva caísse, mandasse para casa os bombeiros que exaustos ou não, lutavam contra os fogos que lavravam nas suas fraldas.

Descansadamente, sem pressas, convenci-me que não haveria caminhada mas, depois de tomarmos o pequeno almoço no Hotel e de beber mais um café, junto ao Restaurante Miradouro, tive uma sinfonia de corvos, monte acima, a dizer-me que, fosse como fosse, mais um dia se iria passar.

Já tarde, iniciamos a viagem, rumo à Peneda e, olhava o céu onde farrapos de nuvens dançavam para mim, nos cabeços de Castro Laboreiro. Mas as notícias, na rádio do carro, não eram boas! Soajo continuava a luta contra os incêndios. Mau, mau, mau .... pensava eu, baixinho. Trocava a minha ida à Pedrada por uma valente chuvada que acabasse com estes incêndios. Passamos a Peneda, Rouças, Tibo e atravessamos a Portela de baixo, rumo a Adrão. Chegamos ao Fojo e disse: "fico aqui"!

Seguiram rumo a Arcos de Valdevez mas antes, ainda conversamos com um amigo que nos pareceu esfomeado. A minha companheira, que adora animais, assaltou-me o farnel para dar um quinhãozito dele a esse amigo que, se calhar, alguém terá abandonado por ali. Comeu quase todo o resto à noite. Cego de um olho e com dois buracos na garganta feitos por uma dentada. Ele subiu comigo até à Portela, mas eu desencorajei-o a acompanhar-me porque, lá em cima, andaria o Tomé, o cão do Zé Manel e, possivelmente, haveriam lutas desnecessárias. Junto ao Cruzeiro da Portela de Cima, com vistas para Adrão e para a Senhora da Peneda, ele entendeu e lá ficou para trás.

O Cruzeiro da Portela de Cima, entre Adrão e a Senhora da Peneda

Segui só! Só, tal como um lobo solitário!

Se há coisa neste mundo que eu goste, é ver as rainhas das montanhas a observar-me, firmando a vista, de cabeça levantada, não vá ser o seu dono que as procure.

Quando passei as Lameiras, calculando que só tarde iria encontrar os meus amigos, pois levava três a quatro horas de atraso, troquei o estradão dos jipes por uma caminhada nos horizontes da Corga Grande, até ao Penedo do Osso, sempre com Adrão à vista, pela minha esquerda e os fumos de Cabril, no horizonte oposto e os de Soajo, lá no fundo.

Ao chegar ao Penedo do Osso, das quatro vacas que ali se encontravam, houve uma que caminhou ao meu encontro alguns 100 metros e orneou. Falei com ela e ela serenou. Parecia dizer-me: "já vi que não és o meu dono e que nunca mais os vais apanhar"! 

 

Uma galanta, nas minhas Montanhas Lindas

Rumei, então, à Fonte da Naia, já cheio de sede, pois o calor era bastante e a pujança da caminhada era fraca. Observava cada pedra, cada moita que, devido ao isolamento, conseguira escapar ao incêndio de 2006. Sempre que caminho nos meus montes, sinto-me rodeado de gente! É essa a minha sensação. Nunca estou só! Ao chegar à Fonte da Naia, saía alguma água por cima da pedra que o Luis e o António estiveram a arranjar o ano passado e, a outra saía por baixo. Mal a olhei, vi saltar um sapo e outro, talvez uma princesa do mundo das fadas, ficou a conversar comigo:

Uma princesa encantada na Fonte da Naia

"que fazes aqui Ventor? Tu não vais beber água porque tens nojo de mim? Podes beber, Ventor, eu não sou tão peçonhenta como tu sempre ouviste dizer. Eu sou um anjo nas tuas montanhas lindas! Eu sabia que tu vinhas aí e sabia que tu irias mudar de rota só para me veres. Tu não estás a ver um sapo, Ventor! Tu estás a ver uma Ninfa das Fontes! Tal como viste nas Fontes, no Sítio do Quico. Aquelas rãzinhas que viste nas fontes eram as ninfas que tu viste quando sonhaste. Elas lá e nós cá, caminhamos sempre acompanhando o Quico. Tu sabes bem, Ventor, porque o trouxeste para cá! Sabes porque decidiste leva-lo para a fonte da tua meninice. Tu conheceste essa fonte de cueiros e bebias água sempre que lá passavas. Por aqui, só mais tarde conseguiste caminhar, olhar-nos e, posso mesmo dizer, aparentemente, adorar-nos! Nós fazemos parte de ti Ventor! Tu, as nossas Montanhas Lindas, as nossas fontes, o Quico e, muito mais, somos os guardiões desta bela serra a que outros, uns asnos, já dão outro nome, mas que para nós, será sempre a serra de Soajo. Tu vais viver sempre aqui, Ventor, connosco. Nós somos quem vela pela fonte da Naia"!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Um Abraço

Um abraço com quarenta e tal anos de lonjura.

Adrão, visto de junto ao Cruzeiro, na Portela de cima, 12 de Agosto de 2010

Eu e o António, o filho do meu amigo Bernardino e da Elvira, abraçamos-nos. Foi um abraço que enrodilhou quarenta e tal anos sem nos vermos! Mas a pinta é a pinta e a pinta do meu amigo Bernardino, está estampada na cara do seu filho!

Um carro descia a Quelha da Costa e, no sítio das despedidas e dos reencontros, parou, olhou e saiu. Olhamos-nos e, depois da surpresa, abraçamos-nos.

Não sei quando nos voltaremos a ver ou, até, se nos voltaremos a ver, mas se não nos voltarmos a ver, seria muito bom que tivéssemos mais quarenta e tal anos de desencontros e mais um encontro semelhante a este. Só que, agora, neste mundo das novas tecnologias, não haverá espaço suficiente para nos voltarmos a perder, se nós não quisermos.

Provavelmente, António, quando chegares aos Estados Unidos, ao abrires o meu Blog, verás que és tu que abriste as minhas caminhadas de 2010 pelas nossas Montanhas Lindas. Eu costumo dizer as minhas Montanhas Lindas mas, eu sei que tal como eu, todos vós terão o coração a bater na esperança de, um dia, voltarem a ver, se não a Pedrada, pelo menos o Alto da Derrilheira, cá de baixo.

Um dia, muitos anos atrás, ainda tu só conhecias o nosso lugar de Adrão e as nossas Montanhas Lindas, eu li, algures, que o Fugi Ama era a Montanha Sagrada dos Japoneses (Montanha Sagrada?) e, nessa altura, nem me passava pela cabeça que, mais tarde, a Derrilheira e a Pedrada, viessem a ter, para mim, o mesmo significado.

Adrão, visto do cimo da Corga Grande, 12 de Agosto de 2010

Levei muitos anos para compreender os japoneses! Mas não tenho dúvidas que, mais alto ou mais baixo, todos os homens ou, quase todos, temos o nosso Fugi Ama.

Podem chamar a tudo isso, saudades, podem chamar-lhe nostalgia, mas seja porque motivo for, o nosso coração fica sempre para trás, retalhado. Por isso, tal como o Júlio Iglésias canta a sua Galícia, eu também canto a minha: «Tenho Morriña, tenho Saudades»!

Gostei muito de te ver, António. Vim a saber que tiveste alguns problemas de saúde, pela América. Espero que o Senhor da Esfera te dê, de agora em diante, a alegria e a saúde que, um dia, te terá tirado.

Já me recordo com quem a tua esposa me era parecida. Conheci uma moça de Braga, também há quarenta e tal anos; chamava-se Adelaide e já não me lembrava, mas se não há laços familiares, há, de certeza, uma parecença inconfundível. Levei tempo, mas cheguei lá! A última vez que a vi, foi na velha "Lourenço Marques", actual Maputo, em Moçambique, em 1970, onde tive uma "guarda de honra" de gente amiga e, entre todos, a Adelaide, que nunca mais vi.

Espero que façam uma boa viagem para a América e obrigado meu amigo, porque eu sei que estavas sempre a perguntar por mim à minha mãe. Ela estava sempre a dizer-me: o A, o B, o C, o ... já aqui estiveram e foram-se embora, com pena por não te conseguirem ver e não irem contigo à Pedrada. Também o ti Avelino, com tantos anos nas pernas, queria ir comigo à Pedrada!

 

O encontro, ao cair da tarde, no Muranho. Eu, o Luís e a esposa, o António, um casal francês (que apareceu por cá, turistando, com vontade de caminhar nas nossas Montanhas Lindas, teve a sorte de encontrar o Zé Manel, em Soajo que resolveu partilhar com eles essa bela caminhada, encontramo-nos, pelas 17 horas, no Muranho. Mais tarde, encontrei o Zé Manel a tratar do jipe, mais em baixo, na Ferrada. Espero que tudo esteja bem com o Jipe, Zé Manel

Ultimamente, tenho tido alguns companheiros nessas fantásticas caminhadas. Para todos eles o meu abraço, sem esquecer o Tomé, o cão do Zé Manel. Desta vez voltei a caminhar por lá como um lobo solitário. Ao chegar ao Muranho, lá estava o Tomé, dentro do cortelho, deitado no escuro onde me apareceram aqueles olhos vermelhos. O Tomé olhou-me com aquelas lanternas vermelhas do meio da escuridão do cortelho e disse-me: "não penses que sei deles! Eles, tal como tu, têm a mania que são lobos mas eu não. Eu sou cão! Voltei para trás e deitei-me aqui ao fresco e, entretanto, sempre tomo conta das coisas! Deixaram-me a dormir na Corga da Vagem, partiram e nem me disseram nada"!

Achei piada porque o Tomé só me viu o ano passado e conheceu-me! Nem um ronco, nem uma ladradela! E imagina tu que tinha lá os belíssimos ingredientes para fazerem um cozido à portuguesa!

Voltarei a falar aqui das minhas caminhadas de 2010, pelas nossas Montanhas Lindas e mostrarei algumas fotos.

Um abraço a todos. 


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Olhar ...

... olhar as minhas Montanhas Lindas, olhá-las por muito tempo, mesmo caminhando no alcatrão, é do melhor que me pode acontecer nas minhas caminhadas.

Ver o Alto da Derrilheira, fazer os meus olhos trepar aquele miradouro do nosso contentamento, já me leva a pensar nas belezas do nosso mundo mas, eu tive a certeza que, desde que os meus olhos começaram a observar aquele pico, então, ainda mais pertinho do céu, nunca mais o esqueceria.

Alto da Derrilheira - lá em frente, os montes são espanhóis

Por isso, ainda hoje, subir e descer as minhas montanhas, é caminhar ao lado do Senhor da Esfera, conversar com Ele e agradecer-lhe por todas aquelas oportunidades que me tem dado de afirmar, cada vez mais, as belezas que, desde então, me deu.

Ele pôs-me a pisar alcatifas de todas as cores, rectangulozinhos de madeira, em várias formas, encerados, produtos belos da caldeirada que as civilizações mixordaram.

Levou-me a subir outras montanhas para comparar, bem mais altas e, também, bem lindas, algumas com cabeços em banda, outras com as agulhas a rasgar o céu mas, em nenhuma dessas belezas consegui esquecer a beleza das minhas montanhas.

Por isso, caminhar rumo ao Alto da Derrilheia, obriga-me a ir sempre de cabeça levantada e, quando inicio a sua descida, tem o dom de uma força magnética, levando-me sempre a torcer o pescoço e obseva-lo.

Por isso, hoje como sempre, a visão do nosso Pico, sobrepõe-se a todas as visões de montanhas que tenho tido, algumas das quais só observei de cima para baixo, como as montanhas do Maniamba e outras, cuja beleza eu observei numa bela ondulação, caminhando pelo horizonte onde o meu amigo Apolo se deitava. Mas, no Alto da Derrilheira, Apolo tinha o dom de se mostrar ao Ventor, ainda ensonado e o Ventor tinha de olhar sempre a vê-lo rebolar, montanha abaixo, até, mais tarde, me aquecer o nariz. Quando ele batia no Alto da Férrea, o Ventor já teria uma das suas tarefas terminadas e, logo de seguida, fazia uma grande correria, montanha abaixo, desafiando Apolo a tocar-me antes de eu poder esconder-me mais.

"Calma, Ventor, que te matas"!

Corria porque tinha a escola à espera e, nessa altura, tudo o que eu queria era chegar à escola. Era pela escola que eu controlava o meu amigo Apolo e ele sabia e ainda sabe hoje, que esses foram os melhores tempos da minha vida.

Por isso, espero, nestes dias, infelizmente poucos, recordar esses tempos com o meu nariz alcandorado nas minhas montanhas.

Uma libelinha, na Parede (Junto à Av. das Tílias)

Assim, vou deixar estas maravilhas e caminhar ao encontro de outras ainda mais belas.

Uma libelinha, no rio Mouro (lamas de Mouro)

Uma libelinha, em Adrão (rio de Além)

Vou ir ao encontro destas que, por razões que estarão para além de outras razões, nunca esqueço. Continuo sempre a caminhar a seu lado e elas sempre a meu lado, quase sempre vestidas de tons azuis ou dourados, esvoaçando entre os salgueiros, pousadas nos carriços do meu rio ou sobre pedras frescas em verões muito quentes.

Gosto muito de caminhar entre elas, por isso, a minha máquina as reboca até mim.

Se calhar, vamos dormir aqui, nestas pétalas

Assim, como me dirijo ao meu mundo, desejo a todos que estão de férias ou que vão entrar de férias, umas boas férias.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente