... mas sonhando!
Sonhei que cheguei a Adrão, pela manhã, num dia nublado, o que não será nada difícil. Depois vi os horizontes mais altos das minhas Montanhas Lindas e disse para os meus botões: "acho que ainda vou à Pedrada hoje"!
Não quis levar comer, nem nada para a eventualidade de umas chuvadas. Meti as máquinas na sacola e lá fui. Quando cheguei à Fonte da Naia, as nuvens começaram a ficar mais escuras e só para contrariar, elas vinham do lado de Castro Laboreiro. Ainda pensei voltar para trás, mas lá fui rumo ao Muranho. Uma malotinha com duas máquinas e um cajado eram a minha carga. Nada de ir carregado. Afinal só me divirto caminhando e nem sequer tenho vontade de comer. Só andar!
Cheguei à Serrinha e, sem passar pela fonte da Corga da Vagem segui direito às Forcadas e foi num ápice que quase fiquei às escuras! Era uma escuridão provocada por nuvens negras, a tal ponto que quase não via nada à minha volta. Por fim, as nuvens levantam um pouco e mesmo escuro já comecei a ver mais à distância, mas sempre com o ferrete do escuro. Por fim, olhei à minha esquerda e o Alto da Pedrada estava totalmente coberto. Cinco a dez metros à minha esquerda e não se via nada. À frente as nuvens ficam esfarrapadas e parecia-me que iria ficar com uma tarde boa. O carreiro para o Curral do Pai era largo e cerca de 30 a 40 metros à frente estavam 5 lobos numa curva de um carreiro que nem existe.
Seria por aqui que vi os cinco lobos
Voltei a olhar para a Pedrada e como tudo estava escuro, resolvi seguir em frente e passar onde estavam os lobos, pois tudo me parecia mais claro.
Peguei numa pedra arredondada e mandei-a direita aos lobos. A pedra bateu no chão a uma boa distãncia, mas não ganhou velocidade, tal como eu queria, perdeu-a e parou antes de chegar aos lobos. Os cinco lobos ficaram em tom de desafio a olhar-me, parados. Voltei a olhar a Pedrada e além da escuridão, verifiquei que os matos já estavam molhados e eu também já estava com o cabelo molhado, o casaco cheio de gotículas que já escorriam e os lobos continuavam a olhar-me.
"Ora bolas! Vim aqui para tirar fotos e não consigo, nem àqueles gajos! Mas aqueles parvos não me parecem nada amigáveis. São mesmo lobos e ficaram mal dispostos com o raio da pedra! O melhor é mandar o passeio à fava, pois já estou a ficar todo molhado e acho que vou fazer a volta rumo à Fonte das Forcadas"!
Pelo sim pelo não, não gostei da atitude daqueles lobos e peguei mais um calhau semelhante ao anterior. Mandei-o com mais força e bateu bem no chão, ganhando a velocidade pretendida e a fazer róóóóóóóóómmm, passando na brasa pelo meio dos lobos. Estes saltaram do caminho para fora e até parecia que voavam. Parei a caminhada ali e voltei para trás sempre a olhar se os lobos se manteriam por ali, mas era praticamente impossível controlar as coisas à minha volta. No entanto, encontrei uma casota de cimento com uma grande antena em cima, com uma porta de ferro fechada e uma escada com 4 degraus para subir ao patamar de cima onde havia uma pequena divisão com outra porta também fechada à chave.
"Como raio não vi a casota há pouco"? Continuei rumo às Forcadas. Um caminho seguia, rumo à Seida, pela minha esquerda e, mais em baixo havia uma corte velha com um caminho já a sério e um carvalho português em frente da corte. Entre a corte e o carvalho, no meio do caminho, os lobos estavam reunidos e já contei sete.
Pensei que os gajos me iriam atacar quando eu chegasse às Forcadas. Aquela reunião de lobos serviria para isso, pensei. Voltei para a casota. Coloquei o cajado junto às escadas, pendurei-me nas escadas e subi. Peguei o cajado para cima, verifiquei a altura do sítio e calculei que os lobos não iriam ser capazes de chegar lá. Mas a humidade era muita, eu já estava molhado e cheio de frio. Sacudi violentamente a porta de ferro do cubículo de cima e a fechadura foi dando de si até que a porta se abriu. Ao entrar, na parede à esquerda, vi duas mantas azúis, como as da Força Aérea e fiquei todo contente, pois iria ficar protegido dos lobos e também protegido do frio que já me penetrava nos ossos.
Por aqui, também haveria a tal casa com a antena
Meti o cajado a segurar a porta, fincado contra a parede contrária e seguro na travessa de ferro que existia no meio da porta. Descobri uns troncos de urze e, com um, reforcei a segurança da porta entre um buraco junto da fechadura e outro junto à dobradiça. Entretanto, sentia o barulhito das patadas de um dos lobos junto à porta daquele cubíqulo que, por obra e graça do divino Espírito Santo, já estava seguro e tinha lá duas mantas que tanta falta me faziam. Acordei, já tapado com as mantas e a tentar usar o telemóvel, mas sem êxito.
Foi pena ter acordado, pois gostaria de ver como iria sair daquela!
Mas tenho pensado muito neste sonho, pois parece que o vivi na realidade. Mas não foi só isso! O frio que tinha quando me tapei com as ditas mantas, era o mesmo frio que tinha ao acordar do sonho. E não é que eu estava bem tapado com as mantas da minha cama! Tremi de frio depois de acordar. Como é que uma pessoa, acorda de um sonho e, mesmo depois disso, sente o frio tal e qual como o tinha durante o sonho?!
E até levei algum tempo a recuperar!
Neste sonho tudo era real, na minha caminhada. Só das Forcadas para o Curral do Pai é que as coisas mudaram. Havia um carreiro que não existe, havia uma casota com uma antena, que também não existe, havia outro carreiro rumo à Seida e, à direita desse carreiro uma corte e à esquerda do carreiro um belo carvalho portugês rodeado de silvas no tronco e os lobos que passaram a ser sete e que também não existem. Nem acredito que hoje hajam por lá sete lobos!
Todos os locais, os montes, a escuridão do tempo, as fontes da Naia e do Muranho foram tão reais como sempre são. O que não foi também, nada real, foi eu não tirar uma simples foto!