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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Ventor entre as Flores

rio adrão.jpeg

Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


30.09.09

No Sítio do Quico


Ventor

Voltei a sonhar com o meu Quico, mas não o vi!

Os sonhos podem não ter explicações, mas creio haver sempre uma predisposição psico-somática que nos leva a isso. A sonhar!

Já passaram 5 dias sobre a morte do meu companheirinho de caminhadas lindas e ainda hoje me parece que ele anda aqui comigo. Tal como me aconteceu com o Rafinho, o meu coelhinho anão, está-me a ser terrível, meter na "corneta" que o perdi para sempre. Cada passada que dou, a prioridade é não pisar o Quico, é procurar o seu comer, a sua água e até julgo que nunca mais deixo de o ter à minha volta. É um duelo terrível entre a sua existência passada e a certeza de que o perdi.

Eu sei que adorei este gato, que foi um grande amigo e que tínhamos a nossa maneira habilidosa para falarmos um com o outro. Nós entendíamo-nos perfeitamente. Ainda há pouco tempo eu a brincar com ele lhe dizia que ele iria ecapar à turbulência cá de casa, e que iria resistir a tudo, por isso, eu  iria procurar alguém para ficar com  ele quando a Dona e eu resolvêssemos iniciar a caminhada final.

Ele parecia vender saúde e, de repente, cançou!

Não é por acaso que voltei a sonhar com ele! Dois dias depois, de o levar, dirigi-me às minhas Montanhas Lindas, em sonho, para o procurar. Achei que, se fosse lá, o via! Mas eu cheguei, cansei-me a procurá-lo por uma boa área em volta do seu sítio e, nada!

Estas foram as fontes que eu vi. As minhas Fontes

Já cansado, transpirado, todo sujo, cheguei à nascente das Fontes, onde ia beber água. Ali, encontrei duas mulheres muito lindas vestidas com vestidos pretos que se dirigiram para mim. Ao chegar junto delas, perguntei-lhes o que estavam ali a fazer, pois não me pareciam dos lugares em volta. Pois, por ali, vestidos negros, tão lindos, ninguém lhes dá uso. Elas eram muito bonitas e achei muito esquisito estarem por ali sòzinhas, pois não via mais ninguém.

Uma das duas mulheres chegou junto de mim e disse, sorrindo: "olá Ventor! Nós somos as Ninfas das Fontes, e velamos pelas suas águas e pelo Quico". Observou-me e disse: "estás muito cansado Ventor"!

«Estou! Estou cansado e sujo» - disse eu. «Estou farto de andar por aí às voltas a ver se vejo o Quico, pois estava convencido que o iria ver hoje»! Depois desanimado disse-lhes: «Não me podem mostrar o Quico»?

A mesma Ninfa, aproximou-se de mim, muito triste, e disse: "não, Ventor! Tu és um homem e o Senhor da Esfera não permite que tu vejas o Quico! Só um dia poderás voltar a ver o Quico e a brincar com ele. Mas não te preocupes, porque ele anda por aqui connosco"!

Olhei em volta e vi tudo tão natural como realmente é. Olhei o pequeno tanque de betão para reservar maior quantidade de água para os animais e, disse-lhes: «estou tão sujo! Se vocês não estivessem aqui, entrava naquele pequeno tanque e, se não me lavasse, pelo menos, refrescava-me».

Esta foi a parte moderna que vi no sonho! Queria entrar e refrescar-me!

"Não te preocupes que nós vamos dar-te banho! O Senhor da Esfera, isso não nos proibiu"! E, uma delas, a que permanecia calada, sorrindo, levantou os braços e colocou um biombo e um duche. Eu entrei, despi-me, meti-me debaixo do chuveiro, muito bonito, comecei a mulhar-me e, de repente, faltou a água.

«Então a água já acabou»? - Perguntei eu!

"Não Ventor, vais ter muita água"! - Disse a ninfa faladora.

Ela levantou os braços, apontou-os à Fonte e a água começou a jorrar sobre mim.

Depois de me lavar bem lavado, a que estava sempre calada, só tinha sorrisos, estendeu-me uma toalha muito bonita mas, semelhante àquela onde embrulhei o meu Quico.

«Vocês roubaram a toalha ao Quico»?

"Não, Ventor! Essa toalha é outra! É semelhante àquela onde trazias o Quico embrulhado só para te recordar que nós estivemos presentes, embora tu não nos conseguisses ver"!

«Bom, se não posso ver o Quico, vou-me embora. Obrigado pelo banho».

A sempre sorridente e conversadora, disse: "vai Ventor! Vem aí muita gente visitar o sítio do Quico, mas ninguém o vê e depois vêm todos beber água nesta nascente".

Então, a ninfa muda, pois nunca falou comigo, fez-me uma festa no queixo, sorrindo, e, a sua companheira faladora, levantou o braço, sorriu e acenou-me, desaparecendo as duas ao mesmo tempo, no local da nascente.

Eu comecei a ouvir a algazarra de pessoas que se dirigiam à nascente para beber água, mas só vi uma velhota aproximar-se, tendo todas as outras ficado para trás, junto do sítio do Quico. Olhei a velhota já tão cansada e acordei sem ver as outras pessoas ...

Levantei-me, fui à cozinha beber água com muito cuidado para não pisar o Quico e, como me certifiquei da realidade, não vendo os seus comedouros, nem a sua água, fiquei por ali a limpar as lágrimas, caladinho. 

 


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

25.09.09

Mais um Sonho ...


Ventor

 

 

 ... na morte do Quico.

Sentimos tanto a tua falta Quiquinho!

As Montanhas de Adrão choram por ti e por nós!

Eu fiquei sem o meu melhor amigo, a Dona ficou sem o seu Príncipe.

O meu Quico morreu no dia 24 de Setembro de 2009 às 07:20 horas. Levei-o e enterrei-o, a 470 Kms, nas nossas Montanhas Lindas.

O Sonho!

O último sonho do Ventor a  que o meu Quico assistiu, mas que, infelizmente para mim,  já não vos vai contar.

Uma das muitas alegrias que o Quico nos proporcionou. Chateado, mas colaborante, quando a Dona disse que o ia vestir à homem

Há cerca de um mês, talvez mais, ele ficou doente. Sem apetite, mas lá ia lambuzando isto ou aquilo. De repente ficou com falta de ar e, como o Veterinário dele estava de férias, levámo-lo a uma outra clínica, onde fez vários exames: análises e chapas. As análises denunciavam problemas no fígado e as chapas manchas negras nos pulmões. Dei-lhe os medicamentos que foram prescritos e ele não melhorou nada. Quando veio o Veterináro dele, já um amigo, levei-o lá e foi, como a Vet anterior, peremptório a acreditar tratar-se de uma pneumonia ou pior.

Mais medicamentos, mas quem não sabe, não acredita como é difícil dar medicamentos a um gato. Tudo isto, sem entrar em pormenores, foi uma tortura, para nós e para ele, durante pouco mais de um mês.

Na noite de 23 para 24 de Setembro, deste 2009, senti que ele estaria muito mal, mais uma vez. Pareceu-me ouvi-lo miar a pedir a minha companhia. Levantei-me e fui para junto dele. Encontrei-o deitado de lado, há entrada da porta da sala com muitas dificuldades em respirar. Já há algumas noites que tinha momentos maus alternados com momentos um pouco melhores. Fui buscar uma das suas mantinhas preferidas, que meti por baixo dele e tapei-o por cima para não arrefecer. Puxei um tapete e outra mantinha para mim mais uma almofada e fiquei ali deitado ao lado dele. Cada vez que o olhava, os seus olhos baços, penetravam nos meus a pedir ajuda. Fazia-lhe festas na cabeça e ele fechava os olhinhos como que a agradecer. Por fim, observando o seu sossego, acabei por adormecer ali no chão.

Nesse pequeno sono, comecei com um pesadelo!

Caminhava nas minhas Montanhas Lindas à procura do meu Quico que tinha desaparecido. Encontrei muita gente que caminhava na minha direcção e à frente deles todas as minhas tias e outras pessoas. Pareceu-me que caminhavam para mim todos os de Adrão juntos do Senhor da Esfera. À frente de toda essa gente a minha tia Joaquina e a minha tia Maria. A seu lado, dois passos atrás, caminhava, olhando-me, de rabo levantado, aquele rabo bonito que ele tinha, todo teso, o meu Quico.

A guerra da caixinha da pomada. A Dona queria tirar-lhe a caixinha da pomada do ventor, mas ele não deixou. Foi uma guerra!

Quando eu  fixei os olhos no Quico, fiquei muito contente por o ver, tão contente que parecia ter redescoberto todas as belezas deste mundo. A minha tia Joaquina, tão real como ela sempre foi, levantou o braço e disse-me falando alto: "deixa o gato connosco Ventor! Vai-te embora Ventor, deixa o gato! O gato fica connosco"! Ora ela nunca conheceu o gato!

Nesse momento, o meu Quico já moribundo, levantou-se, foi contra a ombreira da porta, deu mais duas passadas, bateu na cómoda do Hall e caiu, ficando encostado à minha perna esquerda. Acordei com ele a olhar-me fixamente! Voltou a levantar-se e caíu duas vezes antes de chegar debaixo da cama da "avó" dos seus amigos e também dele. Fui lá fazer-lhe festas olhando-o e acariciando-o, chorei imenso porque a minha esperança era ali que terminava. Ele precisava de ajuda e eu não tinha como ajudá-lo. Estive ali algum tempo. Por fim, sossegou mais um pouco e eu aproveitei par ir tomar duche e ia pensando no meu sonho. Ao sair da casa de banho espreitei-o e os olhos dele pareciam duas lanterninhas vermelhas a olhar-me. Fui lá fazer-lhe mais umas carícias e lá ficou sossegado.

No quarto pensava vestir-me, ir fazer o pequeno almoço e levar a dona à fisioterapia quando ele deu dois mios muito grandes. Voltei a tentar acalmá-lo e ele levantou-se, caíu, tornou a levantar-se, voltou a cair e, ao tornar-se levantar atacou furiosamente o aspirador à dentada e largando-o caíu no chão que tentava morder, mas não agarrava nada. Voltei a passar-lhe a mão pela cabeça a pensar na hipótese de apanhar uma dentada, mas ele olhou-me pela última vez e caíu de bruços no chão, abrindo as patas da frente, uma para cada lado, encostando o peito ao chão, não se mexendo mais. Endireitei-o e escusado será dizer-vos que chorei imenso por aquele meu companheiro de 12 anos. Passaram por mim, por momentos, 12 anos de alegrias imensas e pouco mais de um mês de tristezas.

Depois, chegou a Paz. A sempre tão pretendida Paz, entre beligerantes, mesmo quando afirmam o contrário!

Com ele já morto, recordei o sonho. A minha tia tinha-me pedido, pouco tempo antes, para deixar o gato com eles e para me ir embora! 

Por isso, eu fiz 900 Kms para levar o meu gatinho para um dos sítios mais lindos do mundo, as nossas Montanhas Lindas, que ele conhecia do computador, onde apreciava as vacas, os cavalos, as cabras, as ovelhas e outros animais quase como uma pessoa. Ele calculava ao ver-me sempre tão entusiasmado a olhá-las que gostava de partilhar comigo as belezas daquele recanto do Paraíso Terrestre.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

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