No sábado passado, 13 de Junho, dia de Stº. António, fui alertado por um telefonema.
«... Tá"! "Sabes onde estamos»?
"... Diz-me e ficarei a saber"!
«Estamos no restaurante, 'O Lagar', em Arcos de Valdevez»!
São belas as cachoeiras do rio Vez, em Arcos de Valdevez
São verdinhos, os carriços do rio Vez
Aí, espevitei logo! E, pensei: "Arcos de Valdevez, fica nas fraldas das minhas Montanhas Lindas"!
Imaginei-me logo a observar as águas límpidas do rio Vez, a trazerem-me mensagens de lobos e águias que galgam e sobrevoam as suas margens, sobre as cachoeiras de águas brancas que descem as montanhas a cantar.
Imaginei aquela brisa suave que faz sussurrar os choupos, permitindo que o Ventor ouça as águas a cantarem, repetindo todas aquelas belas canções que foram trauteando, montanha abaixo, de cachoeira em cachoeira, de rodopio em rodopio. Mas, não esqueço que, além das belas canções, elas trazem-me, desde as suas nascentes, os uivos dos lobos e o pio inconfundível das águias.
São belas as águas serenas e a sua mata, o paraíso das pêgas e demais passarada
A Igreja da Misericórdia, em Arcos de Valdevez
Quando eu caminho pelos Arcos, há duas coisas que nunca deixo de observar atentamente: os cabeços em frente, que descem desde a Pedrada e as águas límpidas do rio Vez.
Eu sei que elas continuam a chorar as Caminhadas do Ventor que, em grandes correrias, galgando moitas e fetos ou, com a paga de uma côdea de pão de milho, comprava a amizade de um belo garrano e, juntos, galgávamos tudo nas nossas Montanhas Lindas e atravessávamos toda a Seida até às suas belas nascentes.
Local das minhas passagens obrigatórias, encruzilhada de sonhos
A beleza do rio Vez está presente em todo o seu trajecto, desde Lamas do Vez, onde nasce, até abraçar o rio Lima, junto a Ponte da Barca. As águas do Vez, vão escorrendo, num misto de alegria e pavor, entre as belas montanhas de Sistelo, cantando ou gritando, de cachoeira em cachoeira, para espantar o medo e, aproximando-se dos Arcos, sereneiam, para observarem com muito mais tranquilidade, as suas margens serenas.
A Ponte Velha sobre o rio Vez, em Arcos de Valdevez
Por ali, na caminhada dos seus ciclos, de ano após ano, elas já na sua quietude, têm tempo para repousar, observar os campos dos Arcos, tentar ouvir as estucadas das lanças, o relinchar dos cavalos de D. Afonso Henriques e do seu primo galego que, no grande torneio, expõem a sua vida em troca de alguns troços de terrenos, por acaso, dos mais lindos do mundo!
Ali, nas margens do belíssimo rio, ainda podem escutar hoje, se estiverem atentos, os golpes das lanças, o relinchar dos cavalos e os gritos de todos que, por motivos vários, cada um à sua maneira, julgava o momento, em que os cavaleiros se empenhavam no fragor de uma luta, sempre presente, antes e depois desse torneio.
D. Afonso Henriques, o vitorioso do Torneio de Arcos de Valdevez
Mas, pelas minhas Montanhas Lindas, pululam as Musas das Fontes que, desde Lamas do Vez, foram descendo aquelas montanhas, para entrarem, também, na peleja.
Elas, as Musas das Fontes, sabiam que o Ventor não podia tomar qualquer partido, por ordem do Senhor da Esfera, mas sabiam, também, o que ele queria!
Sabiam que, dali, só podia sair um vencedor, que esse vencedor seria sempre um Afonso e que, esse Afonso, só podia ser o nosso e, por isso, esse pedaço de Paraíso, só poderia ser nosso, também.
Por isso, as Musas, nunca tiraram os olhos da lança de D. Afonso Henriques. Foi a força do seu olhar, do olhar das Musas, que derrotou os galegos!
Consumada aquela Vitória, que seria a vontade do Ventor, elas subiram cantando laudas ao Senhor da Esfera e voltando a rumar, montanhas acima, pelas suas belas Fontes, por onde se banhavam até chegarem às nascentes do Vez, onde encontraram o Ventor deitado no relvado do poulo, a cismar, pensando como seriam aquelas nascentes se viessem, um dia, a ser espanholas!
Afonso VII de Leão, o vencido
Mas as Musas que chegaram com a boa nova abraçaram-se ao Ventor, gritando Eureka! Nós vencemos. O Senhor da Esfera esteve connosco! E começaram a dançar com o Ventor que acreditou sempre na Vitória, pois todas as suas forças estavam preparadas para se tornarem numa única Força - a Força!
De todos os anfiteatros que se debruçavam sobre os belos campos dos Arcos do Vale do Vez, todas as forças vivas embrenhavam-se numa força só - a Força!
Afonso VII, durante uma noite, perdido nos Arcos
Os lobos, os ursos, os javalis, as raposas, as martas, as fuinhas, os coelhos, as águias, os falcões, os tecelões, os pombos, as rolas, os gaios, as perdizes, os pintassilgo, os melros, as pegas, os ... todos os seres vivos que se debruçavam desde a Pedrada, sobre o Vale do Vez, formavam uma força só. A Força! Essa Força, pela mão do Ventor e pelos olhos das Musas, concentrou-se toda no cavalo, no nosso Afonso e na sua lança.
Assim , a Vitória estava garantida!
Rio Vez e a sua serenidade, depois de corridas tormentosas pelos desfiladeiros de Sistelo, nos contrafortes das minhas Montanhas Lindas
Mas o Alex e a Tina quiseram ver mais de perto as minhas Montanhas Lindas e foram-se aproximando de Soajo. Por isso, eles não tiveram tempo suficiente para ouvir o brado da derrota de noestros hermanos galegos. Viram as paisagens mas não viram os campos da Justiça - o símbolo do Torneio de Valdevez, nem o Pelourinho de Soajo. Mas, como se costuma dizer, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Haverão melhores tempos.
Obrigado, amigos, pelas fotos. Assim não preciso de procurar as minhas todas.