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Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

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Vejam estes golosos a comer rojões assados na serra mais linda do mundo - a serra de Soajo


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Assar rojões na serra de Soajo, nos braseiros dos torgos das urzes, é uma tradição de séculos. Os que eles estão a comer em cima, são estes. Eu estou de serviço às fotos.

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O Charco ...

... fonte de vida.

Num charco, ou nos lamaçais à sua volta, há sempre vida. Vida que às vezes nos faz confusão.

Se nós sabemos que numa determinada nascente e nos charcos que a rodeiam há muitos bichinhos de várias espécies que aparecem por lá durante parte da primavera e pelo verão dentro, também sabemos que, a partir das primeiras chuvadas do outono e, depois, pelo inverno até à próxima primavera, tudo em volta nos sugere que a força das águas que nasce ali, mais as águas que escorrem pelas montanhas que chegam a formar pequenas correntes de limpeza em certos sítios, acabam por limpar tudo que por ali se acumulou, nascendo e morrendo durante os tempos de bonança.

Dá a impressão que, micróbios, insectos aquáticos e aéreos, sanguessugas, escaravelhos da água e outros, tudo foi limpo e nada ficou para renascer durante os tempos de renovação da vida. Mas, na verdade, ao voltarmos lá, encontramos tudo renovado!

Normalmente, é assim em todas essas fontes de vida, como em tudo, umas melhores que outras. A não ser que seja a secura definitiva como na Senhora do Lago!

Por isso, ficamos contentes ao rever a mesma bicharada do ano anterior. Lá estão as minhocas, as sanguessugas, as libelinhas, as borboletas, as rãs, os escaravelhos ... Tudo o que se renova, dentro e fora do charco.

Durante as minhas caminhadas, tenho encontrado vários charcos de vida que me prendem por ali, em volta, durante bons pedaços dessas caminhadas. Mas nunca esqueço os charcos que encontrei pelas montanhas daquela velha Vila Cabral, a actual Lichinga uma cidade, em Moçambique.

Uma vez, numa dessas caminhadas, encontrei umas nascentes como aquelas que existem na serra de Soajo, na Corga da Vagem, junto da Pedrada. A zona era grande, a água nascia e entrava por baixo de espaços de poulos, voltando a aparecer, depois escondia-se e voltava a aparecer novamente e assim por diante. E eu observava o espaço e só me lembrava da Corga da Vagem .

Enquanto eu esmioçava tudo aquilo à minha volta e apreciava a paisagem, lembrei-me que seria um bom local para as gibóias andarem por ali. De repente, vi o Goldfinger aflito a tentar desenvencilhar-se de um bicho e, nesse momento, eu só me lembrava que uma cobra veneosa, uma mamba, por exemplo, estivesse a atacar o cão ou, mesmo um escorpião o tivesse picado, porque o chinfrim do cão era grande. Meti o "turbo" e corri até ao Goldfinger e, ao chegar junto dele, fiquei contente e estupefacto com o que via. Contente porque o grande companheiro das minhas caminhadas não corria qualquer perigo e estupefacto porque, as carcaças que eu encontrava por ali de bivaves e de caranguejos, que mais me pareciam dos tempos do Terciário, me mostravam que, afinal, pelo menos o caranguejo era uma viva realidade. 

Um estranho caranguejo tinha-se agarrado ao focinho do cão porque este, atrevidamente e, se calhar, tão estupefacto como eu, terá ido meter o nariz onde não fora chamado!

O Goldfinger, quiz apreciar, bem de perto o que aquela coisa estranha faria por ali, a cerca de 600 kms do mar e entre 1.100-1.300 metros do nível do mar. Ora, encontrar caranguejos naquelas condições, foi para mim um fenómeno intrincado e, mais ainda, quando ninguém acreditou na minha história. Mas tudo bem!

Olhem o jeitaço!

Eu também achei intrincada a busca destes amigos, que para mim seria de minhocas, mas longe da fonte de pesca, embora haja (havia)  vogas na Seida, seria pouco provável. Minérios, seria outra probabilidade. Tudo menos petróleo!

Mas, afinal, o que eles procuravam era uma garrafinha de vinho que deixaram lá no ano anterior a refrescar para, no regresso, apreciarem uma bela pomada fresquinha que os lamaçais das minhas montanhas lindas tão bem sabem preparar. Por isso, vamos saber esquecer os minérios e saber lembrar que, o retorno de uma caminhada poderá não vir a ser o adequado.

Ainda me lembro da azáfama que tivémos, eu e o Luis, com o Jack, em Agosto de 2006. Ele estava estoirado da noitada anterior porque se deitou acerca de duas horas antes de se levantar para irmos até à serra. Eu levantei-me caladinho para ele não acordar e, quando preparava o meu pequeno almoço para comer e partir sózinho, apareceu ele na cozinha. "Que vou comer eu"? Eu disse-lhe para se ir deitar que não queria arrastões atrás de mim, mas ele teimou e quiz ir. Depois da pedalada até à Corga da Vagem, encheu-se de coragem e pediu-nos para prosseguirmos viagem ao Fojo do Lobo e à Pedrada que ele esperava ali por nós pois já estava cansado.

Ficou ali mas levou as garrafas para colocar naquele belo refrigerador natural. A fonte da Corga da Vagem.

Tanto quanto sei, esta nascente nunca seca. Lá em cima a nascente das Forcadas nasce e corre para o lado de lá e a nascente da Corga da Vagem nasce no meio das urzes, e corre para o lado de cá

Isto é que foi dormir! Mas será a 2ª caminhada à serra de seus pais, que nunca mais vai esquecer. Na primeira foi sempre a dançar o Fire Inside

Apontamos-lhe o local da nascente, nós tínhamos passado ao lado, e ficava atrás de nós, do nosso lado, junto às urzes que tinham escapado ao incêndio. Ele assenou que sim com a cabeça e lá foi. Bem me pareceu que ele já não nos ouvira. Foi para trás, passou a corga para o lado de lá, atirou com as garrafas para a água, estendeu-se no poulo e adormeceu. Quando chegamos, o Luis foi direito à fonte e eu desloquei-me para a esquerda onde ele dormia profundamente. Não houve grito nem assobio que o acordasse, só mesmo quando lhe dei um chuto nos ténis ele acordou.

Olhei a nascente, lá em baixo, do lado contrário, e perguntei-lhe o que fez às garrafas, pois não as via. Que fizeste às garrafas Jack? "Metias no rio, como disseram"! Eu olhava para o "rio", a Corga da Vagem, e nada! Lá demos com as garrafas e levá-mo-las para a nascente e pouco faltou para o Luis se antecipar na prospecção do tal minério que ainda não tinha chegado. Ele levava uma grande fézada naquela garrafinha de vinho verde, fresquinho, de Ponte da Barca.

Ali, dentro de alguns minutos, já estavam geladinhas e aí almoçamos.

Talvez, muitos de vós não saibais que, há momentos na vida dos caminhantes que vale mais uma garrafinha de qualquer coisa bevível do que um poço de petróleo. Quem nasce nos States dos Bushs e dos Obamas, nunca chega a perceber nada sobre as minhas Montanhas Lindas, mas tanto quanto sei, todos ficam deslumbrados!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

A vida renasce ...

... nas minhas Montanhas Lindas.

Fotos tiradas dois anos depois do grande incêndio. Tiradas, creio, em Agosto de 2008 e enviadas agora de Paris por outro Luis de Adrão, que vai fazendo as suas caminhadas no meio dos gauleses, mas sem alguma vez esquecer as nossas Montanhas Lindas. 

Bezerrinhos, algures, nas minhas Montanhas Lindas. O que eu daria para estar, ali, junto deles e do fotógrafo. E se assim fosse, nem adivinham as fotos que eu tiraria! Alguém me disse que me esperavam lá, mas 2008, por aqui, foi terrível!

Estes bezerrinhos são os príncipes das nossas Montanhas Lindas, porque eles são os filhotes das nossas belas rainhas das montanhas.

Obrigado Luis, por me teres enviado estas fotos. Que melhor imagem haverá que esta? Eles fazem parte do renascer da vida nos nossos belos montes. Talvez ainda um dia, haja por ali, o gado suficiente que nos mate as saudades de outros tempos.

Garranos na Naia

Os garranos que o fogo de Agosto de 2006 obrigou a descerem para os lados do monte Gião, e outros locais bem antes do tempo de Outono, voltam agora a subir aos cabeços de que tanto gostam. Eles, tal como as rainhas das montanhas são do que há de mais belo na serra de Soajo. Nada mais bonito que ver os garranos em correrias loucas na Corga da Vagem, e outros locais quando iniciam as suas brincadeiras.

Garranos no Cabecinho a comerem ervas novas

Eles, aí estão, aproximando-se da Corga da Vagem, das Forcadas, da Seida, da Pedrada ... Só faltam os putos reguilas com a broa de milho para lhes servir de guloseima e, enquanto eles saboreiam o pão de milho de Adrão, saltar-lhes para o dorso, à índio, e iniciar uma bela cavalgada.

Rainhas da montanha em redor da Pedrada?

Os garranos ainda vão no Cabecinho, mas as vacas, creio que já estão em redor da bela Pedrada. Pelo arredondamento, parece-me mesmo tratar-se de um pormenor da Pedrada. Eu acredito que seja. Luis, se não for, agradecia que me corrigisses.

Um fiel amigo sempre presente nas nossas caminhadas

O cão, é um dos melhores amigos do homem, nas caminhadas pelas nossas montanhas. Eles são amigos fiéis que nunca nos abandonam e foram eles que me ensinaram que, na companhia de um cão e, se formos tão fiéis como eles, nunca estaremos sós!

À procura de petróleo?

Não! Petróleo não há! Mas se escavarem mais um pouco, certamente poderão encontrar volfrâmio, urânio ou outros minérios. Quem sabe? Pelo menos o que se agarra ao granito, estará lá! 

Elas são mesmo rainhas nas minhas belas montanhas

Nunca mais voltarei a ver nas minhas montanhas tanta beleza como outrora, mas estas fotos que o Luis Perricho me enviou fazem-me aguçar a memória de algo inesquecível.

Antigamente os nossos montes eram mais ou menos assim, limpos e belos, apenas tinham a alimentação para o gado e haviam zonas de matos mais densos, por onde o lobo se escondia. Hoje, nos montes da Assureira não se rompe nos matagais. O mato é tão grande que não se pode penetrar, mas se tivermos o azar de um dia arderem os belos montes da nossa Assureira, Adrão morrerá sem oxigénio.

Espero que isso não aconteça, porque arderão as bouças da Assureira com os seus carvalhos e os animais que estejam pelo caminho não escaparão.

Que o Senhor da Esfera proteja a nossa Assureira porque, todos nós, os homens, há muito que a abandonamos.

Será que, com os tempos que correm, ainda iremos ter o nosso Nabuco?Para não ouvir músicas sobrepostas, terá de clicar, na margem esquerda, no altifalante da Rádio Ventor, nas Nossas Rádios para a calar e, depois, clicar nesta.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

O Salto

Era uma vez ...

Todas as histórias, normalmente, começam assim! Ou "once upon a time" ... ou ...

Mas esta minha história é verdadeira e, certamente, perpassam pela minha mente, muitos saltos mas, todos eles, baseados apenas num ... o Salto!

O salto, nos meus tempos de menino e moço, criado com muitos outros, como lobos, pelos trilhos das minhas belas montanhas, tem aqui dois significados que nunca irei esquecer. Na minha região, bem dentro das minhas montanhas lindas, há poucos anos, esse Salto terminou para sempre! A Barragem do Alto Lindoso extirpou definitivamente o primeiro Salto. Agora, o outro Salto, depende da vontade dos homens.

Claro que, num e noutro, falo-vos de "contrabando". Mas apenas num contrabandito que fazia, então, parte da luta pela sobrevivência das gentes das aldeias que me viram crescer.

Vou falar-vos aqui do Salto que tinha de se dar no rio da Várzea.

O Salto ficava, algures, no centro desse braço da Barragem do Alto Lindoso. Devo ter, algures, uma foto ou slide por aí, mas não sei ao certo se ainda existe. Quem me dera!

No rio da Várzea havia um local de passagem - o Salto - para se passar para o lado de Olelas, lugar do lado da Galiza e onde a minha gente se ia abastecer, além de outros sítios galegos por ali perto, com produtos fundamentais como bacalhau e outros que, por razões várias não havia do nosso lado ou porque não havia mesmo ou porque se tornava muito caro para as gentes que viviam sem dinheiro ou com muito pouco ou então porque existiam muito mais longe que esses locais da Galiza. De Adrão aos Arcos de Valdevez eram um pouco mais de 4 horas e mais 4 para voltar carregados. De Adrão a Olelas eram duas horas e isso siginificava mais duas de retorno com carrego. Isso dizia tudo, mas havia também o valor do câmbio de cerca de um escudo para duas pesetas. Dependia.

Por isso vou contar-vos a história que a minha mãe me contava da única vez que por lá passou e em que posso utilizar a forma dos tais dois em um, porque eu também lá estava!

- Numa determinada altura, antes de eu nascer, era preciso ir ao bacalhau à Galiza, mais precisamente, a Olelas. O meu avô falou com um amigo de Olelas e perguntou-lhe se lhe arranjava determinados produtos que alguém os iria lá buscar à primeira oportunidade. O meu avô tinha 7 filhos, dos quais, uma filha estava casada na Várzea e como era preciso fazer pela vida, era ela que, normalmente, dava os "saltos" pela família! A âncora era em Olelas.

A minha mãe dizia-me que ficava aterrada por saber que a irmã tinha de dar o grande salto no rio da Várzea, tantas vezes com o rio cheio, transformado num dilúvio e ela dar o tal salto com as coisas à cabeça, sempre a pensar que o salto era demasiado longo para as suas pernas já cansadas da descida da montanha ou da ida e da volta até Entrimo. Mas essa minha tia, a minha tia Florinda, era dura e fazia essas caminhadas, junto com outras, pela família.

Um dia, por portas e travessas, a minha mãe teve de se deslocar a Olelas buscar as tais coisas que o meu avô tinha pedido. Claro que "este menino" foi com ela! Lá fui embaladinho naquele "oceano" que vocês conhecem e que serve como nossa primeira cubata.

Ora, nos lugares da Várzea, de Paradela, de Tibo, da Peneda, etç., haviam Postos da Guarda Fiscal que, como muito bem sabiam e podiam, tentavam controlar todos os saltos dados pelas minhas gentes. Mas, tanto quanto sei o Salto da Várzea, em certos momentos do ano, eram controlados exasperadamente, e por isso, para leigos como era a minha mãe e eu, claro, instalado na minha bela cubata, fomos a Piece of kake para a Guarda Fiscal.

Havia sobre a beleza nocturna do rio da Várzea uma luz de luar sumido que a minha amiga Diana teve o cuidado de pôr no nosso caminho e que permitiria dar o salto com alguma à vontade, mas era preciso deixar que os guardas se distraíssem ou dormitassem. Claro que a minha mãe, que não percebia nada daquilo, avançou "à trouxe mouxe" e tentou o seu 2º salto. O salto do regresso ao lado da Luz. Entre as rochas desse local chamado Salto, havia um sítio em que a água parecia uma panela a ferver e era sobre essa panela, em sentido figurado, que era preciso saltar. Mas com a barriga cheia por um fedelhinho como eu, com o bacalhau à cabeça, o cansaço da caminhada e sei lá que mais, começou a tagarelice de uma pessoa que denuncia ao mundo a "desgraça" em que se meteu!

"Alto"! ... "Alto ou atiro"!

A minha mãe conheceu aquela voz!

Era a voz de um amigo! Era a voz de um guarda que não recordo o nome, mas conheci em pequeno um pouco mais tarde e tive uma pequena guerra, em Paradela, com os filhos dele. Eram três contra mim. Eu fiquei com a cabeça a sangrar e o filho mais velho dele também, e meteu o rabo entre as pernas e foi a correr para casa fazer queixa ao pai. Eu ia limpando o sangue com as mãos infestadas e não fui para casa só para não ouvir a minha mãe. Depois, do meio de uma horta vi o guarda dirigir-se para a nossa casa e ir falar com o meu pai e dizer-lhe a peste que eu era. Enchi-me de coragem e dirigi-me a casa. Olhei o grande loureiro, (pensando como era bom ser grande) que existia junto à casa e desci umas escadas da porta de trás. Fiquei a olhar os dois e mostrei a minha cabeça. Disse-lhe: "ele partiu a minha cabeça e eu tive de partir a dele. Não parti a dos irmãos mas estive quase para parti-las todas, porque eles atiravam para não falhar"!

A conversa acabou ali e o guarda foi ensinar o filho a ser homem.

Mas, voltando ao Salto, a minha mãe gritou a dizer-lhe que não queria cair ao rio, mas que ia lançar tudo fora e que a deixasse ir para casa, porque estava cheia de frio e não queria saber do bacalhau para nada nem que nunca mais comesse bacalhau pelos Natais!

O guarda sorriu e perguntou-lhe se era a Teresa de Adrão. Ela disse-lhe que sim. "Que raio fazes aqui moça"? - Perguntou-lhe ele. Fui buscar as coisas que o meu pai encomendou. É bem mais perto do que ir aos Arcos e eu vim busca-las. Mas nunca mais passarei este rio!

O guarda e o seu companheiro foram até meio do rio e pegaram nas coisas da minha mãe e passaram-nas para o lado de cá, ao mesmo tempo que a ajudaram a dar o Salto.

"Vais dormir a casa da tua irmã"? Perguntou-lhe o guarda.

Sim!

"Então amanhã, bem cedo, pega nas tuas coisas e vai devagar, montanha acima, pois tens um bom carrego para levar até Adrão. Quando chegares à Cascalheira, tudo será mais fácil".

O Guarda Fiscal olhou-a bem cheia de medo e disse-lhe: "agora vai. Nós não vimos nada! Dá cumprimentos ao teu pai".

Esta é a história do medo que a minha mãe me contou, algumas vezes e dizia-me como esse guarda tinha sido bom.

Esta é uma pequena história semelhante a tantas outras muito mais complicadas. Houve tempos em que algumas mulheres das minhas aldeias dormiam com as suas trouxas entre as urzes, como os lobos, à espera que os GF's se retirassem, para conseguirem levar a água aos seus moinhos que é o mesmo que dizer: "levar o pão e o bacalhau para a família".

Claro que ali ninguém fazia contrabando a sério, como seria, segundo diziam, nas regiões com mais população, como Monção, Melgaço e outras em que o contrabando tinha objectivos de maior significado económico - o lucro.

Ouvi então a história de um homem que foi abatido pela Guarda Fiscal para os lados da Peneda, segundo penso, porque lhes terá fugido e, desde então, sempre tenho pensado na vida que essas gentes levavam para sobreviver e no dilema da luta entre o gato e o rato ou, então, entre os contrabandistas de meia tigela e os guardas fiscais de então.

Mas, o mais importante desta história, foi a minha amiga Diana ter-me contado que, inculcou na cabeça do Guarda a vontade de ir ajudar a minha mãe para sobrevivência do seu amigo Ventor.


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