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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Ventor entre as Flores

rio adrão.jpeg

Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


27.10.07

Ainda o Outono ...


Ventor

... acompanhado de sonhos e realidades.

Uma noite destas, estive, mais uma vez, em vias de inspirar a última molécula de oxigénio.

A dona do meu Quico quis chamar o 112, e eu fiz-lhe sinal que não!

Consigo raciocinar com muita simplicidade e das duas uma:

 - ou o 112 chega e eu já estou do lado de lá;

 - ou o 112 chega e eu já estou sem vontade nenhuma de ir até ao hospital;

Por isso, deixo andar ao sabor do Senhor da Esfera. Ele lá sabe como resolver este meu problema!

Mas depois deitei-me, medricas como sempre, à espera da eventualidade de que as coisas corram bem, mas não esquecendo a hipótese de uma possível continuidade, no mal.

No entanto adormeci e sonhei.

Sonhei imenso! E sonhei com coisas do passado, revivendo-as!

Sonhei que era muito novo, um cassapinho de tempos que já não voltam e sonhei com coisas do meu amigo Outono. Andava pela minha Assureira, num dia de sol, lindo, à procura de água na mina. A poça, cá fora, estava toda lamacenta e a mina era tão escura que não deixava ver nada lá para dentro. Eu perguntava-me como era possível que com um dia tão lindo, não conseguia enxergar nada, mesmo ali na entrada.

Arrepiei-me todo a tentar observar o que se passsava dentro da mina, olhei o vidoeiro que está à entrada com as suas folhas amarelas e o carvalho, em frente, junto ao muro, com as folhas outonais todas castanhas-avermelhadas. Olhei a casa da Assureira (o palheiro) de porta aberta. Ao meu redor tudo brilhava, apenas a entrada para a mina e a porta da casa estavam escuras como o breu.

Mas eu precisava de água! Voltei a olhar a mina e, do meio da sua escuridão, veio uma voz estrondosa. Era a voz do Senhor da Esfera!

«Vai-te embora Ventor! Vai Ventor! Não poderás mais entrar nesta mina»!

"Mas eu preciso de água"!

«Não beberás mais água desta mina, Ventor»!

Tirei a cabeça da entrada da mina, voltei a olhar em volta e tudo era lindo. As folhas das videiras de outros tempos, estavam amarelas. Nas lavouras de feno, observei os cagordos (cogumelos) grandes, "larápios", era asim que lhes chamávamos, quando eram enormes!

Voltei a olhar as videiras e voltei a vista para a porta escura da casa. Lembrei-me do lagar, da pia que junto ao lagar recebia a parte do vinho que escorria pelo buraco, mal fechado. Comecei a imaginar como matar a sede. Seria com o vinho novo!

Assim foi! Corri pela lage da Assureira, sem água e, tal como antigamente, ao entrar na porta que, vista da mina, era negra, cheia de escuridão, lá estava tudo claro, com lenha para o burralho, o feno, ao fundo, encostado à parede e, a seu lado, um montão de espigas de milho à espera de serem transportadas para o caniço, e junto ao lagar, os garrafões vazios, esperando a vez para serem enchidos com a bela água pé, feita com as uvas brancas do Colado.

Sobre o lagar, na sua horizontal, o grande madeiro de nogueira por onde, junto a uma ponta, entrava, na vertical, a rosca também de nogueira na base da qual ficava uma espécie de caixote com uns paus onde se fazia força para a rosca fazer descer aquele madeirame sobre as tábuas que espremiam o mosto até ao máximo possível. 

Mas tudo isto, tão banal como a própria vida, para vos dizer que, após a tormenta anterior em que o ar não queria entrar nos meus pulmões, a alegria de reviver momentos de uma vida que nunca consigo esquecer, não só inspirando o ar precioso, mas também o cheiro característico do mosto que num lagar fervilha enquanto eu, sedento, me delicio com o cheiro e com o copo que me preparava para encher daquele elixir fantástico. Infelizmente é aqui que tudo acaba!

Não cheguei a encher o copo mas, ao acordar, ainda continuava impregnado daquele cheiro do vinho novo pelas minhas narinas e, para mal dos meus pecados, bem tentei transformar tudo aquilo num momento realista, mas não deu. Mas deu para voltar a adormecer e repegar no sonho encontrando-me no cimo da Portelinha a ver todo aquele vale até ao fundo de Soajo, e os carvalhos da Assureira como a mais bela amostra de Outono que jamais vi. Mas as coisas nem sempre são bonitas. Do meio dos carvalhos vinham as vozes de todos os meus antepassados que me queriam comunicar algo mas que não consegui identificar. Desta vez deu para acordar todo encharcado em suor e passar o resto da noite a pensar em tudo aquilo que vi o ano passado em 28 de Agosto, mas que, em sonhos, coloquei no Outono.

Foi uma noite cheia de tudo! A senhora da gadanha que espreitou, as minhas imagens do passado, as belezas impregnadas de alegrias e tristezas, a presença do Senhor da Esfera a me dizer que não e do meio dos carvalhos as vozes de todos aqueles que, tenho a certeza, me querem bem.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente