Amigos
Amigos que não se esquecem.
Há alguns anos atrás, fui ao Hospital de Viana do castelo ver um sobrinho meu, que ali estava internado com uma doença grave. Problemas cardíacos que lhe roubaram a vida aos 35 anos.
Mas, quem vai de fora, nunca está a par de tudo e eu não estava porque era impossível que me contassem tudo. A minha caminhada entre Adrão e Viana, todos os dias ou quase, tornava-se um pouco cansativa. Nem para passear e menos ainda naquelas condições, quando o médico disse que pouco haveria a fazer, mas que em termos de medicina ele estava a ser bem tratado.
No último dia, alguém me disse: «sabes quem também está aqui no Hospital»? Há mais alguém? «Sim! O ti Manel da Leira»! Perguntei onde se encontrava e lá fui ter com aquele meu velho amigo. O tempo marca todos e, nessa marca, o ti Manel da Leira levava-me vantagem. Uma vantagem desinteressante, para ele, mas a vantagem da marca estava presente.
Entrei no quarto e lá estava ele deitado e a sua filha Rosa a seu lado, segurando-lhe o braço. Eu apercebi-me que era ali, naquele local, que a família fazia falta e fiquei contente por, apesar de tão longe de casa, o ti Manel da Leira não estar só. A sua filha, com a tristeza do momento, ali estava com ele.
O ti Manel da Leira com a sua Rosa
Durante algum tempo, conversamos sobre o passdo, sobre o presente e sobre o futuro. Sobre a nossa velha terrinha, como tinha sido e como era naquele momento e, também, como as doenças massacram mesmo os mais fortes e quantas vezes nem é necessário esperar pela altura adequada para que esse massacre se dê.
O ti Manel, conversando, acertava ou não acertava com os objectivos da nossa conversa. Triste, olhava-me e falava do que lhe vinha à cabeça. Por fim eu despedi-me. Disse-lhe que iria regressar a casa porque as minhas obrigações assim o determinavam e que me sentia triste por encontrar naquele local, pessoas que faziam parte da minha caminhada, um familiar, em plena juventude e outro, um velho amigo, ele, a quem o Senhor da Esfera ainda poderia estender a passadeira, mais algum tempo, para ele puder continuar nas suas caminhadas e puder observar como Apolo continuava a encarreirar os nossos ciclos de vida. O ti Manel, olhou-me fixamente e disse-me: «vai, rapaz vai. Vai com Deus, porque eu ainda chego primeiro que tu à Chãe do Boi»!
Nunca mai me esqueci desta frase! E cá está, em baixo, a nossa Chãe do Boi!
A nossa Chãe do Boi queimada! Era o caminho do Ventor e dos seus amigos, para as montarias. Ali, em tempos de chuva, vi, várias vezes, as patadas do lobo
Eu já passei na Chãe do Boi, depois dessa nossa conversa e mal ele sabe como eu tive de me haver para sair do Poulo, esse local rapado entre as tapadas! Tinha chuvido imenso e, por fim, lá consegui andar sobre as paredese e saltar por cima de lençóis de água que nunca mais terminavam. E como eu embirro mulhar o calçado! Mais parecia um cabrito, que um homem que caminhava nos caminhos da saudade!
Desde então, nunca mais passei na Chãe do Boi, mando lá a minha máquina, e desta vez ela olhou comigo a Chãe do Boi desde o Alto da Derrilheira.
Hoje deparei com a foto de cima que me obrigou a recordar tempos passados e um amigo.