Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

21896775_AZGpE.jpeg

Vejam estes golosos a comer rojões assados na serra mais linda do mundo - a serra de Soajo


21896774_5o1Cs.jpeg

Assar rojões na serra de Soajo, nos braseiros dos torgos das urzes, é uma tradição de séculos. Os que eles estão a comer em cima, são estes. Eu estou de serviço às fotos.

_________________________________________________________________________________________________________________________

Adrão, o Eirado

Já vos falei de Adrão, o Cabo do Eido, hoje falo-vos do Eirado.

O Eirado é a parte envolvente à capela, no centro da aldeia.

Eis a capela de Adrão. Pequenina, mas é a casinha de nossa Senhora da Conceição. Uma casinha devassada pelas modernices dos alti-falantes ali colocados para dar horas e tocar as Avé Marias (na foto não se vêm porque a capela está em obras e foram tirados). Aposto que alguém apostou, que ia acabar com o sucego da aldeia. Como ultimamente nunca dormi em Adrão, agora nem sei se ainda tocam de noite. Uma violência.

A casa em frente da capela, esta da imagem, faz parte da minha história desde que nasci. É a casa da tia Rosa Martins (minha tia avó) e do ti João Rego. Agora é da minha madrinha e da filha (olá Rosie!). 

Esta, por trás e ao lado da capela, tem a mais os tijolos da porta e a menos a grande latada que ali existia. Apenas restam os postes.

Aqui, neste largo, faziam-se os bailes nos dias de festa, em Adrão. Agora tem a mais o calcetado e o poste de elctricidade. Parece que não havia mais lugar nehum para o colocar!

Por trás da capela ainda  existe este campo de milho e novas casas. Matei saudades a olhar o milho e as couves ...

 ... e, do lado contrário, para lá dos campos e do rio, o Marco d'Além, parte integrante das minhas Montanhas Lindas. Coloco-o aqui, especialmente, porque, ainda criança, foi olhando aquele marco que aprendi a ver as horas. Ele era uma espécie de relógio de ponto. "Tenho de me despachar que já vai o sol ao Marco"! Havia sempre algo que se fazia a correr pois o meu amigo Apolo ia partir e depois só de lanterna.

Dentro deste pátio, onde está a passar o meu amigo Zé, era um curral, onde havia estrume para as cortes e era um dos nossos antros de brincadeira (olá João!).

No cimo desta rua, à esquerda, morava o meu padrinho. Sim que eu também tive um padrinho e teve de fazer três horas a andar para me ir baptizar a Soajo. Mas foi a minha madrinha que me levou de Adrão a Soajo e volta, sem me deixar cair nos fraguedos.

 

No fundo desta foto, lado direito, era a nossa fonte. bebi água dali durante 15 anos e mais tarde também. Agora é imprópria para consumo. Estragam tudo!

Mas dentro do portão, já há alguns anos (a única foto antiga) estão as vacas do meu amigo Sita, que o Senhor da Esfera tem à sua guarda.

À moda antiga, grita-se alto em Adrão, apesar dos telemóveis e a lenha aguarda a sua vez, e será tão rapidamente despachada quanto mais frios forem o Outono e o Inverno.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Adrão - Outono

Se estou bem informado, é hoje que começa o Outono de 2006.

O Outono é uma das quatro estações que se atravessam no nosso caminho.

Eu já vos enjoei com um dilúvio de fotos sobre as minhas Montanhas Lindas, mas vai haver muitas mais, embora, com uma apresentação mais soft.

No entanto tenho poucas fotos das minhas belas montanhas pelo Outono e as poucas que tenho dão-me tanto trabalho a encontrá-las que desisto de as procurar. Tenho de fazer a festa, em termos de fotos, com antecipação. Mas também é o princípio!

  
 

Tapada de Paradela 

Mas eis como os meus montes estão caminhando para as belezas de Outono que se aproximavam, en fins de Agosto. Olhando essas árvores que eu plantei em criança, tarda pouco e em volta do verde que a minha bela canecipe sempre apresenta, estarão implantadas as restantes cores matizadas de Outono.
 

O Outono é tempo de castanhas, tempo de castanheiros carregados, tempo de passear por baixo dos castanheiros e ouvir o barulho provocado pelos ouriços espinhosos na sua queda, esperando sempre que, por sorte, nehum deles se enfie na nossa cabeça. Até uma simples castanha que se desprenda do ouriço no cimo do castanheiro, esperamos que caia fora do ciclo que nós ocupamos.

 

Tapada de Paradela 

Agora, numa perspectiva mais alargada, as árvores lá em cima e estas cá em baixo, vidoeiros, carvalhos e o meu castanheiro, acompanharão os fetos na palete do meu amigo Outono prontinho para dar as suas pinceladas.

Sempre gostei e continuo a gostar de ver os castanheiros: sejam lisos, sem folhas, como no Inverno; seja quando as folhinhas começam a rebentar, pela Primavera; seja quando as flores deixam a sua vez aos ouriços, pelo Verão; seja quando, pelo Outono fora, nos presenteiam com os seus belos frutos.
Adoro a Natureza e toda a beleza com que ela nos brinda e, que nem um druida, sempre que posso, presto a minha homenagem àquelas belas árvores que me acompanham pelas minhas caminhadas e, mais ainda, quando pelos meus montes.

 
 

Castanheiro na Tapada de Paradela  

Este é o meu castanheiro. Sim porque eu também tenho um castanheiro! Nem imaginam como se estava bem à sua sombra de fins de Agosto, bem como das outras lá em cima. Já não se estará tão bem quando as castanhas e os ouriços começarem a cair mais aí para diante.

Mas de uma coisa eu tenho a certeza. As minhas árvores são lindas todo o ano e só espero que as minhas castanhas façam bom proveito a quem as apanhar e as comer. Mas se um dia tiverem a oportunidade de passar pelas minhas Montanhas Lindas e verem estas minhas árvores vestidas com cores sublimes, lembrar-se-ão de como o vosso amigo Ventor tinha razão.

Mas, como evidentemente se poderão aperceber, haverá muitas outras que, nas zonas por onde os fogos não passaram, serão encanto de todos os viajantes, como estas aqui na zona do Mezio, no Gião, onde felizmente não arderam e onde as faias, os vidoeiros, os carvalhos, e muitas outras filhas do sol, cumprirão a sua função de embelezamento.

Estrada Mesio-Gião

Imaginem-se a passar neste estradão todo colorido, cheio de beleza infinita, mais ainda se subirem a encosta do monte Gião e olharem para baixo. Haverá sempre dias ideais para apreciar os belos coloridos que o Outono nos oferecerá na sua caminhada fresca ou fria, senão dias primaveris.

Mas haverão carvalhos como estes, em baixo, todos vermelhos, ou castanhos, ou amarelados, conforme o tempo de maceração e a espécie de carvalho, que olhados de longe, se pintados de tons avermelhados, não permitirão ver os garranos que vão caminhando junto deles.

 

Haverão muitas manchas espalhadas pelas belas montanhas do norte da cor destes garranos que se passeiam entre o Mesio e o monte Gião

Por isso, podem crer que o Outono, pelas montanhas do Norte tem forçosamente de ser lindo.

Depois tem toda uma cambiante de vida, não só de cores, que nos permitem dizer que é belo mesmo. São as esfolhadas (agora poucas, porque não há gente. Vão passar o Outono e o Inverno à América), são as vindimas, é a água-pé e o vinho novo, o cheiro do mosto perfumado que sai dos poucos lagares existentes (o meu já caiu), são os cagordos (cogumelos se preferirem), são os fumos que mais intensamente começam a sair das chaminés para cozinharem e aproveitarem para se aquecerem e muitas outras coisas! Os gados descem da serra e é preciso dar-lhes de comer, a sua ceia constituida por feno seco ou palha de milho, etç, etç.

A vida no Outono torna-se tão variada e tão intensa que tem mesmo de ser bela!


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Adrão - Cemitério

Sempre que posso, passo pelo Cemitério de Adrão para dizer olá à minha gente. Tenho lá muita família e muitos amigos.

O Cemitério de Adrão. Lá ao fundo a serra Amarela e o Gerês

Eu, quando passava por Adrão, encontrava-os atrás das vacas, atrás das ovelhas, pelos caminhos, à janela, ... e, sempre que vou visitar o Cemitério acabo por encontrar mais alguém. Mais um amigo ou amiga que foi caminhando à frente.

Desta vez foi o Joaquim "Brasileiro" ainda meu parente pois o seu pai e a minha mãe eram primos direitos. Ele era um pouco mais velho que eu e, entre os mais velhos e os mais novos houve sempre uma passagem de testemunho. À medida que crescíamos íamos caminhando sempre mais alto! Mais uns dias, uns meses e dávamos mais umas passadas inesquecíveis. Sempre mais um cabeço, mais um monte. Primeiro os montes mais baixos, agarrados ao rabo das vacas.

Depois o Poulo da Férrea, a Chãe do Boi, depois a Naia, depois o Muranho e, por fim a Pedrada! É para esses montes que dá a porta do Cemitério de Adrão. Estas eram as caminhadas que nos marcaram como crianças e depois como homens. Passo a passo, mas sempre mais um, mais dois, muitos! Nas costas do Cemitério ficam os nossos outros montes. A leste o Gondomil, a Corga das Estacas. A sul a Assureira, a Oeste o Senhor da Paz e os montes de Bordença. Para Norte, a Portela, a Corga Grande, mas entre o Norte e o Oeste fica a saga das nossas grandes caminhadas. O Alto da Derrilheira, rumo à Pedrada.

O Cemitério de Adrão. Do lado de lá, o Poulo da Fraga e os montes da Assureira 

O nosso mundo era grande à medida que trepávamos e a nossa liberdade era total. Contida nos parâmetros das caminhadas dos mais velhos, mas total. Corríamos montes e vales e trepávamos as rochas como cabritos até atingir a próxima fonte. Caminhávamos no rasto do lobo. Ainda hoje caminho no rasto do lobo e sinto-me tão lobo como eles, quando trepo nas minhas montanhas. O lobo via-nos, mas nós não o víamos a ele. Raramente lhe colocávamos os olhos em cima! Ainda hoje admiro aquele canídeo deslumbrante que sei que me olhava, me admirava e me respeitava. Se assim não fosse, não andaria por aqui, caminhando com os dedos sobre teclas e a falar-vos do respeito mútuo que nos norteava. Sinto que há dentro de mim muito do lobo! Sinto que trepo as nossas montanhas com a mesma animosidade e generosidade que ele. Somos mesmo inseparáveis!

Mas nessa altura, o lobo era inimigo dos nossos gados, portanto, nosso inimigo também! Era por isso que uma montaria era uma festa! Mas, a partir de uma determinada altura, quanto mais crescia mais imaginava o lobo como um companheiro de caminhada. O Joaquim perguntava-me sempre: «viste o lobo, Ventor»? Agora não me pergunta mais, está no nosso cemitério.

Mas no nosso cemitério também encontro gente viva, gente que presta homenagem aos seus parentes e amigos. Desta vez tive mais sorte!

Do Cemitério de Adrão vêm-se os nossos montes a Leste. A Corga das Estacas, o Gondomil ...

Fátima é o seu nome. Estava junto da campa de meu pai e de minha mãe. Depois caminhou para a campa de meu irmão e de meu sobrinho. Eu vi lá gente e enquanto a minha irmã e a minha "cara metade" seguiram para o interior do cemitério eu fiquei fora a tirar fotos às suas paisagens deslumbrantes, à espera que essa gente saísse. Quando vou visitar os meus amigos gosto de estar só com eles.

De repente ouvi uma espécie de "algazarra" dentro do cemitério e vejo um braço estendido e o chamamento: «Ventor, anda cá»! Era a minha irmã que me chamava.

Por trás do Cemitério de Adrão, vê-se a Assureira engolida por matos enormes, o rio de Adrão rumo a Soajo e, do lado de lá, a serra Amarela 

Entrei e apontou-me uma mulher do grupo presente. Os olhos dessa mulher sorriam para mim, brilhando! No seu sorriso eu via uma luminosidade infinita. Sentia que ela me queria abraçar e a minha vontade era igual. Ela já sabia quem eu era, porque a minha irmã lhe dissera, mas eu não. Mas não nos víamos desde pequenos e eu não a conhecia. Nem dava para a tirar pela pinta!  Os nossos sorrisos de crianças estavam separados por cerca de 45 anos. Tínhamos um elo de ligação. A minha tia Rosa de Paradela, minha tia e sua avó!

A Fátima era de Cidadelha e vinha para Paradela fazer companhia a sua avó. Eu ia a Paradela ver a minha tia e lá estávamos algum tempo juntos. Depois a Diáspora separou-nos. Eu vim para Lisboa e ela, algum tempo depois, foi para Inglaterra. Hoje está em França com o marido.

Mas quis o senhor da Esfera que num abraço, no cemitério de Adrão, matássemos saudades de uma eternidade de separação.

Do Cemitério de Adrão vemos os caminhos da Assureira, no Grilo e por cima o caminho para o Poulo da Fraga e Centieira

Que nossa Senhora de Fátima esteja sempre contigo Fátima. No dia seguinte vi a tua irmã Angelina mais o marido, no Campo, na casa da tua tia Clementina. A emoção ali não foi tão forte porque tu foste minha companheira a devorar as fatias de presunto com ovos estrelados e rodelas de tomates que a tua avó me arranjava quando eu, miúdo, atravessava a serra para chegar a Paradela.

Muitos beijinhos para ti Fátima e não te esqueças que eu e o Quico temos muitos e-mails.

Mas vi também um amigo dos velhos tempos - o Emílio. O Emílio da Curta como a gente lhe chamava. Gostei de te ver Emílio. Tantos anos passaram entre nós e como tu me fizeste lembrar uma das pessoas de Adrão de quem tanto gostei. A tua mãe! Ela era a minha grande amiga que tudo fazia para não deitarem abaixo o cortelho do Ventor. Ainda há pouco tempo estive lá, nas minhas ruínas e nem imaginas quanto me lembrei dela. Também nunca tinha visto o teu filho. Um abraço para todos, do Quico e do Ventor. Foi o nosso Cemitério que nos ligou.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente