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Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

nas suas caminhadas por Adrão e pela serra de Soajo. Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

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Vejam estes golosos a comer rojões assados na serra mais linda do mundo - a serra de Soajo


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Assar rojões na serra de Soajo, nos braseiros dos torgos das urzes, é uma tradição de séculos. Os que eles estão a comer em cima, são estes. Eu estou de serviço às fotos.

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Adrão - A Terra

Olá, Belmiro!

Está feita a correcção. Por acaso tinha reparado no erro quando testei o link, mas recebi um telefonema a pedir-me ajuda para testar uns e-mails e depois passou-me. Mas não há problema, porque continuo a gostar dela, seja tua seja do teu irmão Francisco. Diz-lhe que deve continuar a colocar "coisas" aí (como fotos, por ex:) porque as gentes de Soajo gostam de ver "coisas" sobre a terra que os viu nascer, estejam por aqui, estejam no fim do mundo. E por esta janela, olhando as fotos, olham-se os montes, os rios, as flores, os cabeços, os horizontes de outrora e até ficam com o testemunho de que o meu amigo Apolo não se esqueceu deles e que, afinal, continua a iluminar o seu torrão natal. 

Gosto muito da página «Fotopoética do Soajo - Portugal», do teu irmão Francisco, mas não esqueças que foste tu que ma deste a conhecer e penso que muita gente gostará. Por isso a coloco aqui, para que as gentes de Adrão, de Soajo, de Vilar Soente e quem mais caminhe por cá, saibam que o amor pelas suas terras existe noutras partes do Mundo. As cachoeiras, os horizontes das suas montanhas, os amarelos do tojo e das giestas, os fenos dos prados que as águas arrastam sobre as pedras musguentas dos rios e as belezas das minhas lindas carrascas rosadas são belezas que, como diria o José Homem de Melo, tal como o «S» de Soajo, não podem ser perdidas.

Eu sou do tempo em que o «S» de Soajo chegou a ser dançado na Televisão, a velha RTP e ninguém melhor que o Homem de Melo falava, saberá hoje falar dessas coisas e mais ainda de coisas esquecidas. Talvez porque, hoje em Soajo, já ninguém dança o «S»! Se calhar, nem o Vira, nem a Canaverde, nem a Chula, mas eu sou suspeito, porque não passo de um filho degenerado! Como tu dizes, o mês de Agosto é o mês de matar as saudades e, se calhar, o tempo não chega para dançar, seja o que for.

Os emigrantes da 1ª geração terão tempo para beber uns copos, para retirar as teias de aranha daquilo que terá sido a sua adega, beber uma cerveja ou fazer rodar a malga, mas os da 2ª geração e, se calhar, terceira, continuarão a pensar nas calçadas paralelipipédicas ou nos lancis de cimento das suas novas vilas e cidades à espera que o tempo passe. É assim que tudo morre!

Tens nessa página, velhos companheiros do Ventor, como os garranos e a vaquinha, uma daquelas a que um filho da França e de Portugal (com base em Adrão), olhando com olhos que sabem ver, chamou de "Rainhas da Montanha"! E não posso esquecer a abalada do meu amigo Apolo por cima dos montes do Mesio. Certamente, quando abala, deixará cair uma lágrima, com saudades das traquinices do Ventor. 


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Adrão - A Rodada

Recebi uma visita de um amigo novo, mas não consegui ler pois era uma mistura de html e escrita corrente, enviada via America Online. Como a gente de Adrão já tem conhecimento desta nossa página, vou coloca-la aqui também no blog sobre Adrão, pois esta é mais um pedacinho da vida do Ventor e da sua gente.

Um abraço para ti Alexandre. Acho que captei o teu e-mail.

Esta foi a história que o Ventor me contou dos seus tempos de menino:

«Quando o ventor era pequenino, Adrão era uma aldeia que tinha bastante gente, desde jovens a velhos e apesar de muitos homens partirem cá para a zona de Lisboa e as mulheres ficarem lá pela aldeia, eles iam lá fazer os filhos. Por princípio, iam passar o Natal a casa e depois alguns, sempre que podiam, iam lá para acarretar o estrume e lavrar as terras. Chamava-se-lhe, fazer o Maio ou fazer as sementeiras.

Havia ainda outro princípio basilar quando eles regressavam a casa. As pessoas da aldeia, especialmente as mais amigas, mal se constava a chegada de algum, iam encher-lhe a casa para saber da saúde do rapazola e fazer alguma conversa sobre outros que ficavam por cá.

Aqueles que, por qualquer razão não tiveram conhecimento atempado do regresso do felizardo, tinham sempre o local privilegiado para o desejado encontro A Tasca do Carrasco.

Mas fosse em casa, ou na Tasca do Carrasco, haviam esfuziantes apertos de mão, abraços, grandes galhofas e um nunca mais terminar de felicitações, tudo isto, sempre em volta de uma rodada.

O lisboeta regressava e tinha sempre o cuidado de não ferir as tradições da terra. Teria de levar uns cigarros que chegassem para oferecer aos da terra e de pagar umas malgas na Tasca do nosso amigo Carrasco.

As crianças, como o Ventor e outros, muitas vezes não conheciam os regressados, porque saíram já a fazer-se homens e regressavam homens feitos, sem terem tido, ainda, a responsabilidade de ter constituído família e iam passando despercebidos aos seus olhares, mas mal sabiam de quem eram filhos, tinham amigos e tinham também, em todas as situações concretas, a possibilidade de partilhar da rodada.

Enche Manel!

À palavra enche, o Carrasco, como um autómato, pegava na malga e imediatamente se ouvia o abrir da torneira e o escorrer da preferência de Baco, vermelhinho carrascão ou mais rosadinho, lá vinha a malga para iniciar mais uma volta pelos convivas. As malgas, de tanto passarem de mão em mão, algumas já estavam com os rebordos esbeiçados. Sim esbeiçados, porque às vezes apareciam os mais meticulosos a exigir que a malga não fosse esbeiçada!

Mas esbeiçada ou não, o essencial da malga era, sempre, uma rosinha de bolhas redondinhas centrada no meio, que era a cartilha de apresentação da qualidade do vinho, para os puritanos das pomadas do meu amigo Baco.

Eram estas alegrias que davam vida à aldeia para além das vidas do trabalho. Mas, às vezes, as alegrias de ontem tornavam-se nas tristezas de hoje. Nem sempre os que partiram regressaram!

O Ventor recorda-se de um rapaz que andou cá por Lisboa e um dia regressou a casa, cheio de alegria e de vontade de pagar umas boas rodadas a toda aquela gente, pois tinha-lhe saído uns dinheiros na lotaria e, recordo-me bem de dizerem que a ele e a mais dois, lhe coube em sorte, a cada um, segundo diziam, 60.000$00, uma pequena fortuna para a época. O Ventor conhecia os pais dele, dois grandes amigos do Ventor e lembra-se desse filho do ti Silva se casar.

Esteve algum tempo na terra, a gozar as primazias do casamento e depois ele e os outros dois, de outras aldeias, decidiram apanhar o “carreiro da esperança” que ficava nos trilhos da França. Pagou as últimas rodadas na Tasca do Carrasco, despediu-se de todos e lá foi na aventura por trilhos que só ouvira falar - rumo à França.

Algum tempo depois, um telegrama, uma simples folhinha de papel, conseguiu colocar uma aldeia inteira num pranto de tristeza e deixar em total desconsolo, família e amigos. O filho do ti Silva caíra para sempre, nas ruas do medo de uma das mais belas capitais da Europa, Paris, fulminado por tiros da polícia francesa, quando sem saberem ler, nem escrever, nem falar francês, foram apanhados na encruzilhada de uma noite de terror em que era absolutamente necessário obedecer ao recolher obrigatório.

Eles ainda estavam a tratar da sua legalização, em França, e apeteceu-lhes ir passear para les Champs Ellisées, não obedecendo à ordem da polícia francesa, por não perceberem o que se passava e aqueles não perderam tempo a abrir fogo sobre três indivíduos que apenas passeavam em ruas desertas.

  

As malgas, como esta, andavam na roda, passando de mão para mão, por todos os presentes

Dois deles morreram e um deles era, o filho do ti Silva, da aldeia do Ventor. À chegada da notícia, Adrão chorava e o Ventor recorda-se de passar toda a noite deitado e acordado, de olhos pregados no escuro do telhado, escutando a mãe e a jovem esposa viúva, juntas com a família e amigos, gritando de dor e quase não queria acreditar que nunca mais o veria na Tasca do Carrasco, junto dos outros, noutra célebre rodada.

Agora, enquanto vão refrescando a garganta, podem ir caminhando ao lado do Ventor também por aqui.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

Adrão - O Paraíso

Reparem nestes lugares e, enquanto os observarem, deixem as águas correr para Mombaça!... falar de lugares mesmo que obscuros e insignificantes, é sempre uma beleza. E eu gosto de lugares insignificantes, porque são mais parecidos com o Paraíso, no tempo em que o Senhor da Esfera o mandou guardar pelos Querubins. Esses lugares, insignificantes para muita gente, podem ter grande significado para quem gosta de observar a Natureza e de imaginar como seria o Paraíso de que a Bíblia nos fala. No meu caminhar, tenho encontrado pedaços desse Paraíso. Digam-me lá que o Paraíso não anda por aí. Porque existe mesmo!

Falar de lugares ...

 

 

 

Deixem que os musgos sobre as rochas e sobre velhos troncos das velhas árvores, enfeitem os vossos olhos!
Deixem que os perfumes dos lodos e dos carriços dos rios, lavados e regados por águas límpidas, enfeitem os vossos olhos!
Deixem que o meu amigo Apolo e seus amigos de caminhada sorriam ao ver as maravilhas que vão esculpindo à sua passagem para enfeitarem os vossos olhos!

Estas fotos foram-me enviadas pelo meu amigo Belmiro Xavier e elas servem para vos informar que o Paraíso ainda anda por aí e que, bem perto de nós, ainda há lugares muito belos.

Neste caso, nos rodapés da serra de Soajo!

Adão foi expulso do seu Paraíso, por ter comido a maçã. Eu não fui expulso por ter comido a maçã ou qualquer fruta, pelo musgo das rochas ou das árvores, pelas águas límpidas, pelo carriço dos rios, ... se calhar, fui expulso pelo escaravelho da batata!

Foi esse menino que me expulsou do meu Paraíso.
Por sua causa eu não me sento junto de uma dessas cachoeiras a ouvir a música das águas que rumam ao seu destino cantando;
não vejo esvoaçar à minha volta as libelinhas azuis;
não vejo o guarda-rios na defesa do seu Paraíso;
não ouço a toupeira d'água dar os bons dias ao ventor;
não vejo a truta esguia a tentar furtar-se do meu olhar;
não sinto os odores dos seus perfumes perfeitos.

Ando por aqui a expiar os meus pecados, mas sei que estes lugares continuam a aguardar-me.

Quero caminhar mais uma vez, entre os carriços dos meus rios ...


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente