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Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Adrão e o Ventor

Eu nasci na serra de Soajo e Adrão, nas suas encostas, é o meu berço

Nasci em Adrão e, desde muito novo, iniciei as minhas caminhadas pela minha serra - a serra de Soajo. Em 2009 ouvi falar de uma cruz que tinha sido colocada no Alto da Derrilheira. Numa caminhada realizada com os meus companheiros e amigos da serra de Soajo, Luiz Perricho, António Branco e José Manuel Gameiro, fomos recebidos no nosso mais belo Miradouro como mostra esta foto.


Algumas das vacas da serra, receberam-nos e, na sua mente, terão dito: «contempla Ventor, mais uma vez, toda esta beleza que nunca esqueces. Este é o teu mundo e é nele que o Senhor da Esfera te aguarda». Tem sido sempre assim, antes e depois da Cruz.


Se quiserem conhecer Adrão, Soajo e a nossa serra, podem caminhar pelos meus posts e blogs. Para já, só vos digo que fica no Alto Minho.



Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Ventor entre as Flores

rio adrão.jpeg

Aqui nasce o rio Adrão


Das melhores coisas da minha vida, foi caminhar no rio de Adrão. Até aos 15 anos e depois, à medida que por lá ia passando. Nesses tempos eu caminhava no meu rio como caminho hoje por muitos trilhos limpos.

 

O rio Adrão nasce aqui e vai perder-se enleado em matagais sem fim


26.02.06

As escadas da tia Bondeira


Ventor

Imagens que não mais se repetirão.

Quando nos primeiros anos da minha estadia por Lisboa e eu regressava à minha terra, encontrava naquelas escadas a cara sorridente de uma das minhas maiores amigas dos tempos de criança. A tia Bondeira. Do meio das suas rugas velhotas, espreitavam-me, sorrindo sempre, a vivacidade dos seus olhos a observar-me, a pressa em levantar-se e o estender dos seus braços cansados na minha direcção e as palavras carinhosas. «Luiz estás um moçatão»!

Aqui era a base! Um pouco antes, à esquerda, é o caminho para a Tasca do Carrasco e este local era a Av. principal de Adrão. Por aqui, praticamente, todos chegavam e todos partiam

Eu subia os poucos degraus das escadas e voltava-me, como se estivesse a jogar à macaca e ela ria-se com o jeito que nós, rapazes, tínhamos para ganhar às miúdas. Hoje posso dizer que as suas escadas eram as escadas da rebeldia! Era ali que nós nos formávamos todos os dias. Os homens desciam da tasca do Carrasco com um grão na asa e nós ouvíamos as suas palavras mais destemidas para a época e para a rapaziada que andava lá pelo Senhor da Paz, na escolinha, pela qual as nossas professoras tão bem velavam. Pela escola e por nós!

Ali era o ponto de encontro de toda a gente que se dirigia a Bordença e à Assureira de manhã e o ponto de encontro, no regresso, à noite. Ali as mães apressadas pegavam os filhos, pelo lusco-fusco, para os fazer regressar a casa e a expressão mais usada. «Oh, mãe, só mais um bocadinho». Enquanto a luz do dia iluminava tinha-se sempre algo para brincar.

O tio António de Ramil e o Manel do Cachês (meu tio e meu cunhado)

As escadas da tia Bondeira estão tapadas por uma betoneira. Na tal pedra está sentado o Manel do Cachês e em pé, de olho no passarinho, um velho passarinho, o tio António de Ramil

«Tá bem, só enquanto eu faço o caldo»!

Ali, naquele ponto de encontro, à partida e à chegada desses mundos, abraçavam-se na despedida e no reencontro. Comparável, só a Tasca do Carrasco, porque era lá que se bebia o último e o primeiro copo! Ali no fundo das escadas, havia e há, uma pedra que faz de banco. Ali, sentados nessa pedra, eu vi, pela última vez, alguns amigos. Naquelas escadas choraram-se tristezas e cantaram-se alegrias, porque por elas passavam todas as saídas e todas as chegadas, com trajecto pelo Eirado.

Só havia uma maneira de eu irritar a tia Bondeira. Ela tinha uma figueira (já não existe) que ultrapassava o muro da horta para o caminho e eu tirava-lhe alguns figos. Não se irritava por eu lhe tirar os figos, mas por eu os tirar e gozar com a minha habilidade. Era uma maneira de ela deixar de rir e costumava dizer que, se me der na gana, ponho quem quer que seja do avesso. Nem a tia Bondeira escapava e ninguém gostava dela mais que eu.

Agora vem o Carnaval. Em Adrão já não há quem brinque ao Carnaval. Não está lá ninguém e os que poderão estar, estão velhos e coxos. Mas era pelo Carnaval que eu desafiava os «Velhos».

Os velhos eram homens que se mascaravam com as máscaras mais feias que houvesse, vestiam-se de velhos com umas roupas velhas e rotas e colocavam nas costas umas marrecas de trapos e, à cintura, um pedaço de palha seca de centeio que seria queimado perto do fim da paródia. Eles entravam pelo meio das pessoas a arder (neste caso, na Eira de Além e as escadas eram as da tia Saloia) e em grande correria em direcção ao rio onde apagavam o fogo que transportavam.

Mas pior que isso tudo era baterem nos rapazes. Era da praxe! Quanto mais lombo os rapazes tinham mais pancada levavam e então a moda era fugir. Mas fugir só, não teria interesse, pois assim não haveria paródia. Era preciso também, procurar o confronto. Bastava chamar velho ao mascarado para se desencadearem as hostilidades e eu era especialista nisso. A correr ninguém me apanhava! Era esse o meu trunfo. Uma vez entrei pela casa da tia Bondeira dentro e saltei para a Horta escondendo-me, entre as couves-galegas, junto à figueira. Tudo andava à minha procura e cheios de medo porque pensavam que eu teria saltado o socalco muito alto que dava para o rego da veiga. Mas olhavam lá para baixo e não viam nada. Saltei o muro para o caminho e fugi em direcção ao Cabo do Eido e não havia velho que me apanhasse.

Outra vez havia um baile, à noite, e os velhos impuseram a sua vontade. Os putos, nessa noite, não dançariam. Três putos resolveram apedrejar a porta da casa do baile e ninguém saía lá de dentro. Até que paramos! Depois foi o bonito e o feio. Tivemos de fugir e de nos esconder. Mas fomos encontrados e o terror de todos os velhos foi em minha perseguição pelos Outeiros abaixo, mas eu não tinha medo de nada e entrei nos campos iluminados pela minha amiga Diana. Eu sabia que o velho era um medricas que tinha medo das almas do outro mundo e levei-o o mais longe possível. Quando se viu só, já depois da meia-noite, ele gritava por mim para aparecer que não me fazia mal. Mas eu estava no meu domínio. Conhecia os campos como as palmas da mão e sabia que o adversário se borrava todo só a pensar nas almas do outro mundo. Aquela foi a maior vitória da minha vida. Gritei-lhe: «vai à frente que eu vou atrás de ti e assim os espíritos não te fazem mal»! E ele foi, parecia um cordeirinho! Que Deus te tenha lá no céu Manel.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente

19.02.06

Adrão está de luto


Ventor

Mais uma vez o lugar de Adrão está de luto! Adrão e também a Várzea.

Um filho da Várzea que escolheu Adrão como destino para toda a sua vida faleceu na América. Um dos meus amigos que nunca mais esqueço deixou de ver a Luz em terras do tio Sam, junto dos seus. O ti Manel Inês, lá longe, terminou os seus dias a pensar nas suas aldeias, provavelmente com o coração nas mãos ao ver desvanecer-se a luz que nunca mais lhe iluminaria os caminhos entre a sua terra de nascimento e a sua terra de adopção, terra da sua esposa e da sua filha, a quem Deus, outrora, lhe mostrou o caminho para a terra dos sonhos.

Mais um que regressa no tal sobretudo de chumbo que vos falo sobre os destinos das gentes das aldeias de Soajo. Pois foi. Hoje mais um telefonema e mais um adeus daqueles que partilharam comigo os primeiros anos da minha vida.

Adeus ti Manel.


As Montanhas Lindas do Ventor, são as montanhas da serra de Soajo, da serra Amarela, do Gerês, ... são as montanhas dos meus sonhos e são, também, as montanhas de toda a minha gente