Adrão - A raposa
Em Adrão, nos meus tempos de criança, haviam muitas raposas. Sempre que eu atravessava em qualquer ladeira das minhas montanhas, eu via muitas vezes uma raposa. Às vezes eram os cães que as espantavam dos seus esconderijos. Mas as raposas eram atrevidas e avarentas e isso granjeou-lhes grandes inimizades.
Elas tinham uma grande predilecção pelas ovelhas, e mais consistentemente pelos cordeiros, ou como nós dizíamos, pelos anhos. Depois eram as galinhas! Uma das especialidades das raposas era ir aos galinheiros ou "poleiros" apanhar galinhas e safavam-se. Mas havia o terror das raposas em Adrão. Era o meu pai! Segundo os especialistas, a pele de raposa era boa no Inverno, especialmente no mês de Janeiro. E era no Inverno que elas, com a fome, se atreviam a ir ao poleiro. Só que a raposa não se limita a matar para comer, se pode, mata por gosto!
Uma bela raposa
Bastava que alguém se queixasse que a raposa lhe roubou galinhas e lá ia, ao luar, o ti João, com a "chibata" nas mãos, pronto para dar cabo de uma raposa. E eu sabia que isso acontecia e sempre de noite. Se a raposa roubara a galinha num determinado sítio, era para os acessos a esse sítio que o ti João seguia. Ele tinha uma coisa boa que lhe permitia caçar as raposas. Não tinha medo de espíritos e por isso se deslocava só e silencioso. Algum tempo depois de sair de casa, por vezes pouco tempo, eu ouvia um tiro no silêncio da noite. Dentro de tempo igual estava uma raposa morta, em casa. Um tiro, uma raposa. Nunca falhava!